terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Gengibre

Ele era bem fácil de se dizer idealizado e um tanto difícil de se descrever, mas mesmo assim ela tentaria. Os cabelos levemente ondulados ruivos, ficavam sempre com aquele ar de propositalmente bagunçados. A barba rala por fazer, as quase imperceptíveis sardas charmosas no nariz adunco, lábios naturalmente rosados, ótimos pra se morder e os olhos levemente azulados, em um tom quase cinza. A pele, como só ela dizia, “cor de parede”. Ele era alto, esguio, quase desajeitado, as mãos grandes, os dedos finos. O tronco era despercebidamente forte, de forma com que ele a envolvia duma só vez, sem muito ter que tentar. As pernas eram longas, fortes e másculas, ela as adorava como só ela poderia dizer. Havia muitas outras coisas em que ela havia reparado, mas não se permitia descrever, queria guardar aqueles detalhes para si, sem dividir informações preciosas da singularidade que ele era.

Era paciente e sempre a olhava daquele jeito atencioso, quase preocupado. Entrelaçava as mãos na dela como ninguém fizera antes, intencionando uma segurança livre, que lhe dava asas. Tendia a ser um tanto pensativo demais e carregava o fardo de não poder ignorar suas constatações. A envolvia suavemente, e quando ela recostava a cabeça no seu peito sabia que tudo faria sentido, pelo menos naquele instante. Sabia muito bem que ambos pertenciam ao mundo e não um ao outro, por isso evitava brigas e caprichos, pois os motivos nunca surgiam.

E enquanto ela continuava a sonhar com ele, aquela materialização de todas as suas intenções, só conseguia pensar nos momentos de outrora em que os lábios se entenderam muito bem. Insistia em perceber que o lar deles seria qualquer lugar em que se encontrassem, quem sabe qualquer dia desses... Ela fechava os olhos e cantarolava com a voz mais desafinada do mundo: “So honey, won’t you come home, tonight?”