quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Liberdade

Ela gostava de se fechar dentro de gaiolas
Só para depois abrir a porta com violência
E se sentir livre outra vez
Era o que lhe instigava
Esse sentimento de liberdade recém conquistada
Que poderia ser roubada do nada, outra vez

Depois de muita vela, mantra e leitura
Ela conseguiu perceber como sempre se trancava na gaiola dos outros
E ainda fechava a porta, só pra garantir

Entendeu que em cada gaiola que entrava deixava um pouco de si
E também acabava levando algo da gaiola
E perdendo um pouco de si mesma e levando outro tanto dos outros
Só poderia acabar sendo algo que não a si mesma

E assim, constatou, que a vida que levava fora criada pelos outros
Pelas leis que não lhe obedeciam
Pelas ordens que não lhe seguiam
Pelos valores que não lhe respeitavam
E decidiu: “De hoje em diante, faço o que eu quero e só”

Seguiu vivendo pelas suas leis, ordens e valores
Mas antes de tudo, seguiu vivendo seus quereres, seus desejos

Fazia o que lhe brotava na cabeça e lhe aguçava a pele
Corria riscos, deslizava nas possibilidades
Tudo que a vontade mandava ela fazia
De tanto querer, esquecia, de vez em outra, o precisar
De tanto seguir o corpo e a mente, as vontades da alma lhe escapavam
Enquanto isso os seus desejos superficiais adoravam se fazer  de desejos profundos
E ela acreditava.

Ah se ela tivesse escutado o preto velho que lhe dizia
“Cuidado menina, de nada adianta fugir da gaiola dos outros
Se você vai virar refém do próprio desejo”



[Celebrando as coisas que você só descobre sobre as pessoas (e porque não sobre si mesma também) sem querer, durante o banho e depois de muito tempo sem pensar sobre o assunto]