terça-feira, 25 de outubro de 2011

Transitivo

Se ser metade muitas vezes requer se encher de completude, e ser completude requer reconhecer-se como faltante, o que resta a quem se entende em vazio mais do que em completude ou faltante?

Se ser egocêntrico implica entender que o mundo gira em torno de "si", e ser altruísta implica entender que "si" gira em torno do mundo, o que pode se dizer de quem muitas vezes não consegue distinguir o "si" e o mundo, que se mistura com o mundo e tem dificuldade em se separar dele?

Se ser criança se desdobra em espontaneidade e imaturidade e ser adulto se desdobra em ser decidido e tomar iniciativa, o que concluir sobre quem é maturidade por vezes e espontaneidade em grande parte do tempo?

Se ser si mesmo exige que se mostre tal como é, sem máscaras, e ser outrem/ninguém exige esconder-se e só mostrar o refletido, o que pronunciar sobre quem só consegue se desvencilhar do esconder quando é aceito, amado e confortado?

Se refletir e ser poesia é em mim constância o que fazer quando me é cobrada objetividade e certeza?

sábado, 1 de outubro de 2011

Respirar

A verdade, pelo menos a minha versão da verdade, é que ser mulher decidida requer indecisão. As certezas são tão volúveis, solúveis, inflamáveis. Ser menina até quando der é decisão de tanta gente, e escolher preservar o jeitinho de menininha, com a decisão ou indecisão de mulher requer tanta reflexão. É difícil não ser eu mesma enquanto me embrenho nessa tentativa, mas pras outras pessoas parece tão fácil.

É custoso pra mim, e o custo é extremamente alto, ser alguém que não eu mesma. É complicado fingir não se importar, inventar ambições, confabular intenções, esnobar sentimentos e entender o inapreensível. É complicado pra mim tecer vulgaridades, despejar contradições, versar futilidades. Em suma, é complexo pra mim a expedição de sobreviver.

Eu sei muito bem, ou o melhor que posso, que as minhas escolhas dizem de quem sou, fui e almejo ser. O complicado é só perceber no que eu me foco, qual é meu lugar espaço-tempo enquanto esse ser de escolhas. E posso dizer que o que fui me intriga, que sou alguém que se interessa pelos consertos, pelas novas possibilidades do que já foi. Mas o sentir atesta que não posso deixar de lado quem sou, não posso deixar de lado quem almejo ser. E aí surge a maior questão de todas: o que fazer?

É nesses momentos em que o nó no estômago, o aperto na garganta e o palpitar no peito não somente não se deixam ser ignorados, como dizem mais do que as mil palavras, frases, pensamentos e intenções circulando freneticamente na minha cabeça.