segunda-feira, 19 de abril de 2010

Metonímia

Queria saber dizer o que acontece quando todas as verdades parecem ganhar lugar devidamente apropriado. Não sirvo para ser bem resolvida, pois as turbulências que se seguem atestam a verdade fugidia. Assim tento constituir no indescritível um sentido, síntese das idéias difusas que rebatem aqui dentro.
É uma vontade de que a intencionalidade se concretize, no entanto, pressinto uma total falta de disposição e simplesmente me entrego. A desistência me angustia, me corrói, me inunda. Enquanto o aperto na garganta insiste, o mais puro dissabor me invade. É assim, antítese do que me faz respirar cada vez mais fundo.
Os dentes se cerram intensamente e os olhos vão perdendo força, aos poucos vão pesando. Enquanto o peito exposto se descortina cada vez mais, surge aquele receio inevitável de não saber onde começa e onde termina cada sorriso. Cada sorvo inebriante retumba uma consternação que pouco se explica e muito se experiencia.
Não consigo manejar as palavras que despendem pretensões previamente estimadas. Sobram-me fonemas perdidos na satisfação de entender essas frases faltantes em letras e que transbordam sentido intrínseco. O sorriso que transparece indica algo que transcende o imediato, o claramente observável.
Vou sonhando até surgir em preto e branco a inverdade temida. Os momentos de tensão dão lugar a dias cada vez mais coloridos e incalculados. É o suspiro que encerra a realidade prenunciada: o medo de ser felicidade.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Soleira

A cabeça latejando, pesa
O peito que se aperta, sufoca
A garganta travada, em nó
Os olhos ardem, se fecham

Era assim
Não saberia explicar a urgência por inexistência
Queria poder encolher até sumir de vez, sem escapatória

Os dias se perdem na semana
As semanas dançam pelo mês
Os meses escorregam pelo calendário encardido
O tempo se reveste em fluidez inapreensível

Era assim
Falta de sentido, consternação.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Corrente

Começo é o prelúdio de alguma vontade
Vontade é a intenção que se faz em verdade
Verdade são as mãos que se entrelaçam
Entrelace são os corpos que se intercalam sobre o lençol riscado
Risco é o perigo manifesto de te querer bem
Bem é parte de mim que se faz tua sem saber
Saber é o entender que se fez espontâneo
Espontâneo é esse sorriso que surge mesmo sem cosquinhas
Cosquinhas são a síntese de uma afetividade inevitável
Inevitável é outra forma de mencionar a intencionalidade fugidia
Fugidio é nosso tempo que logo se distorce em meses
Meses esses que somam dois
Dois mencionados, ao teu lado
Lado dito, que me faz, a cada dia, feliz sem entender

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Blasé

A angústia que se prediz nesses olhos vazios
Faz parte dessa tristeza que não se explica
Palavras ocas: é marasmo
O nó na garganta palpita

As têmporas latejam incomodamente
O zunido ensurdece
A ignorância rebate
A fuga não mais me ludibria

De que me adianta escapar do mundo
Se um dia hei de voltar?
Não me serve mais falar do descontentamento nas lágrimas que se seguem

É assim, engulo o choro
Esboço algo que lembre um sorriso
E traço poesia