terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Momento


A sua respiração completa a minha dentro da sua
Suamos até escorrer, esse cheiro de nós dois
Dois que se fazem um, nesse momento...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sem meias palavras

Se for pra chorar
Que seja envolvida no seu abraço
Embalada pelas suas palavras de afeto
Compreendida pelo seu silêncio empático

Se for pra dormir pouco
Que seja porque o amor transborda e preenche a casa inteira
Que seja porque a conversa não tem fim
Os arrepios dançam na pele
As mãos percorrem o corpo inteiro
A barba roçando no pescoço não permite
Que seja porque eu e você somos um nós que transcende o individual

Se for pra acordar
Que seja enroscada em você
Com direito a beijo com bafinho matinal
Pernas que se cruzam no lençol lilás
Mãos que se enlaçam e se entrelaçam
Suor que é meu e seu
Olhares que se perdem e se encontram
E por causa do êxtase que faz perder o ar e se misturar no todo

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Nós

Há de se dizer sobre o aqui e o agora

Sorrir para os silêncios de intimidade sutil
Silenciar para os desejos que nos tiram o ar
Desejar para as ocasiões intensas que cortam a madrugada

Dizer dos entendimentos que se desenrolam sem palavras
Entender os abraços de envolvimento desmedido
Abraçar os momentos de sinceridade no olhar

Compartilhar quando os gritos assolam a alma
Gritar quando os arrepios percorrem o corpo todo
Arrepiar quando a vontade supera o bom senso

Riscamos os lençóis brancos
Trocamos as notas e as melodias
Construímos e destruímos a cada instante

Agora só te peço algo simples
Espalha seu cheiro em mim
Que eu deixo minha essência em você

Fotografia

O desbotado das memórias também tem algo a dizer
É engraçado mudar a ordem dos porta-retratos na estante
É estranho me deparar com todas essas cores e nunces
O anunciado às vezes causa mais surpresa que o imprevisto

Parece que eu tento prever os momentos de amanhã
Só pra poder me enganar
Prevejo para não precisar ver realizado
Espero o inesperado
Adoro ser contrariada enquanto traço invenções

Há dias em que os baques não se emudecem
Há momentos em que as verdades se chocam contra as paredes
Os registros dizem tanto do que já foi quanto do que agora se desvela
A garganta seca percebe e avisa

Ao mesmo tempo há de se entender o presente
Ceder espaço para simplesmente desfrutar
E valorizar as memórias que estão sendo aos poucos tecidas
Dia após dia, um momento de cada vez

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Excesso

Sou aguda
Sou a raiva que espuma
Sou a alegria que preeenche
Sou a tristeza que transborda

Sou exagero
Sou a tranquilidade que flutua
Sou o contentamento que contagia
Sou a dança que se espalha

Sou intensidade
Sou o tempo que se condensa
Sou o espaço que se estende
Sou a tempestade que avassala

Não consigo ser nada além de abismo
Dor crônica não me impede
E a rotina só vem quando serve de atestado
Prova cabal do que faço de errado

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Namorandinho

Estou acostumada com querer quebrar as convenções, ser diferentona, por assim dizer. Acho que por tempos, meu pensamento era claro: faça o contrário do que as pessoas costumeiramente fazem. Como eu via tanta gente matando, morrendo, sofrendo e sendo infeliz, só podia concluir que se elas eram assim, tudo que faziam na vida, no universo e tudo mais, só podia ser errado, então quem sabe fazendo o contrário eu seria feliz?

Para mim, ser esquisita é lugar comum. Falar e não ser entendida é de praxe. Pensar de forma não ordinária é cotidiano. Eu sei muito bem lidar com isso. Estou habituada com mal entendidos, batalha, aceitação passiva, ou discussão acalorada, choque de opiniões. O complicado pra mim é ser abraçada, entendida, compreendida, satisfeita e acolhida. Sinto vontade de ser um relampejo de cotidiano, ser padrão (mesmo que distorcido), ser felicidade em encontro e sorriso em mãos dadas. Você me seduz, sem saber, ou sabendo, até um lugar com gostinho de nostalgia reinventada. Me convida a ser mulher e a ser quem eu quiser ser, sem a obrigação de ser diferente de todo mundo E por me convidar a esse lugar da novidade, eu amaldiçoo e agradeço profundamente você. 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ficção

Pra você: não faz sentido ser reinvenção
A imutabilidade é palavra de ordem
Posso te ver ontem, hoje e amanhã
Traçando exatamente o caminho que lhe foi reservado

Seus desejos e anseios mudam sempre
Passam como folhas outonais nessa espiral de inconstância
Mas no centro algo permanece
No vórtice, a máscara não se move
A indecisão, a mentira e a prepotência permanecem

Pra mim: não faz sentido ser a mesma
Sou possibilidade, invenção
Só posso falar do que já não mais sou
E esboçar o que diz respeito ao essencial

Os desejos são volúveis, descartáveis
Evaporam com o sol que brilha, viram vapor em segundos
E no centro somente o self brilha
Ampliando, criando, vivendo, descendo
Sendo ontem lágrima, hoje silêncio e amanhã sorriso

É chegada a hora da descida
Desço os degraus sem pressa
A cada momento me aproximo mais da fonte
Uma voz me chama, trazida pelo vento...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Do lado de cá

Enquanto minha invenção inventa de ventar
Meu sorriso sorri só rindo
Dizendo pra mim mesma
Que poetisa que se preze
Usa, abusa, abole
Diz, desdiz, desvia

Já nessa comunidade a nossa unidade é comum
Ser indivíduo requer ser singular
Ser indivíduo requer ser parte
Ser cidadão do mundo

A distorção diz da torção do meu coração
Que gira em torno de mim, de você e de si mesmo
Procurando saber se estou me curando
Por onde ando, de onde falo e o que digo

terça-feira, 13 de março de 2012

Que já foi...

A gente só consegue arrancar a faca do coração quando
O abraço parece uma mão estendida.
As palavras lembram um beijo
E enquanto a mão estendida envolve
O beijo já entende

Eu sei que o coração ainda bate
E o buraco vazio continua lá
Ele só vai parar de doer
No exato segundo, marcado em relógio
Em que eu preenchê-lo esclarecidamente com o nada

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Poesia da pequenez

A caneta só está lá
Repousando
Flutuando

O papel só fica ali
Contemplando a madeira desgastada
Dizendo sobre as aspirações de tinta

É mais do que simplesmente papel
É um rascunho de intenções
Uma lista de vontades
Uma compilação de reverberações
Um apanhado de imensidão

Só que mesmo assim não passa de papel
Dependente de minha disposição
Desejante de minha intensidade
Cego à sua pequenez
Surdo à sua potência
Mudo à sua desilusão

Faço de papel horizonte
Faço de caneta permissão
Enquanto a poesia faz de mim
O que ela bem quiser

(Transcrito depois de 14 min de "Só dez por cento é mentira". Obrigada por existir, Manoel de Barros)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Faz de conta

(essa é minha tentativa, um tanto falha, de me concentrar mais, me dispersar menos e criar algo um pouco mais ritmado, achei clichê, meio não-Carol, muito extenso e basicamente ruim, mas...)

Você está aí, na porta de malas prontas
Os pés tocam a calçada
E você se vai

Eu bem que reparei que o dia está nublado
Tudo está exatamente como você deixou
Seu travesseiro ainda está na cama
Mas eu ainda nem dormi

Você está lá, na estação de trem
As mãos tremem
As pernas vacilam

Eu bem que percebi que algo não se encaixava
Tudo está exatamente como você deixou
Aqueles seus sapatos estão no armário
Mas eu ainda nem troquei minhas roupas

Você está ali, no restaurante sozinho
A garganta aperta
O coração vacila

Eu bem que entendi que você mentia
Tudo não estava como antes
Aqueles recadinhos ainda estão na geladeira
Mas eu ainda nem consegui comer

Você está por aí, tentando seguir em frente
O sorriso está enferrujado
A voz está hesitante

Eu bem que tento te convencer
Tudo que eu falo
Eu diria mesmo pra você
Como se a gente ainda estivesse no mesmo lugar

Eu ainda quero que a verdade seja que você mente
Eu ainda quero que você me deixe preocupada
Eu ainda quero que a gente se engane dizendo que é pra sempre
Eu ainda quero que a certeza seja que não acabou
Mesmo que nada faça mais sentido
Mesmo que você nem se pegue mais pensando em mim

Eu vou deixar a porta aberta
Eu vou deixar a chave debaixo do tapete
Eu vou deixar a luz da sala ligada
Só pra ver se você volta

Eu vou deixar seu travesseiro na cama
Eu vou deixar seu sapato no armário
Eu vou deixar os recados na geladeira
Só pra ver se você volta

Todos dizem que eu estou me iludindo
E que você não vai voltar
Mas quem sabe de nós, não é?

Quando você voltar a gente pode fingir
Agir como se você nunca tivesse ido
Seu perfume ainda inunda a casa
Até parece que você ainda está aqui

Todos tentam me convencer da “verdade”
E falam que estou melhor sem você
Mas quem sabe de mim, não é?

Quando você voltar a gente pode mentir
Pensar que você saiu pra trabalhar
Sua câmera ficou em cima da mesa
Até parece que você ainda vem buscá-la

Todos falam de nós dois
Como se soubessem de tudo
Mas quem sabe a verdade, não é?

Quando você voltar a gente pode sair
Ver um filme, rir, andar de mãos dadas
Sua guitarra está encostada no canto
Até parece que você ainda vai cantar pra mim

Todos pensam que me entendem agora
E tentam me consolar com palavras sem sentido
Mas quem sabe o que dizer, não é?

Quando você voltar a gente pode se amar
Se envolver, se enlaçar, noite afora
Nos conectar como fazíamos antes, sabe?
Naqueles momentos em que tudo fazia sentido

Eu ainda quero que a verdade seja que você mente
Eu ainda quero que você me deixe preocupada
Eu ainda quero que a gente se engane dizendo que é pra sempre
Eu ainda quero que a certeza seja que não acabou
Mesmo que nada faça mais sentido
Mesmo que você nem se pegue mais pensando em mim

Eu vou deixar a porta aberta
Eu vou deixar a chave debaixo do tapete
Eu vou deixar a luz da sala ligada
Só pra ver se você volta

Eu vou deixar seu perfume no ar
Eu vou deixar sua câmera em cima da mesa
Eu vou deixar sua guitarra no canto
Só pra ver se você volta
Quem sabe você volta...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Descarte

Seu violão distorcido não diz de nós
O tempo que condiz, não contribui
É estranho dividir uma realidade com você
Se nem somos do mesmo universo

A música no improviso ressoa, entende
Eu fico sem saber o que dizer
Permitindo-me me inspirar
Por uma verdade que nem ao menos é minha

Cada um em seu ofício
E o meu ofício que é nenhum?
Cada um com suas respostas
E a minha resposta que é pergunta?

A gente tenta soar no mesmo ritmo
O descompasso atrapalha, atrasa
Eu não trato de corrigir as rasuras
Tudo segue como se nada tivesse acontecido

Eu não olho, não percebo, não completo
Fico sentada no canto, dizendo
Mas ninguém compreende mesmo
Quando as palavras já são mudas

Quase ninguém percebe percebe que é assim que me comunico
Nos silêncios permissivos da melodia alheia
Quase ninguém nota que é assim que mais falo de mim
Nas notas perdidas do equívoco anunciado

Não entendem, podem até tentar perceber
Minhas frases incompletas gritam
Enquanto todo mundo sai do eixo
Quando todos mergulham em algo que não diz de mim

Fica frio aqui fora, quieto
É penoso saber que no lamentar é que mais sou poesia
Os universos se estendem, não se entendem e colidem
As verdades se separam, se distanciam

E não importa mesmo
Se eu pudesse ser quem eu quisesse ser
Seria conforto e distância
Se pudesse estar onde quisesse estar
Estaria tranquilidade e acomodação
Porque o que mais dói agora é não ser/estar nada disso
Nem ao menos pra poder passar despercebida

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ininterrupto

Enquanto eu ando pelas ruas e só ando
As pessoas passam por mim, andando em círculos
Rostos embaçados, sorrisos enferrujados
E a dor que cada um esconde?

Pareço ser fria, deprimida
Enquanto todos penduram um cabide no rosto
Eu acho engraçado, acho melancólico
Todo mundo andando em direção a lugar nenhum

Em todos os cantos rostos conhecidos
Lugares desgastados
Risadas encobrindo tudo
A angústia se soma, acrescenta

Eu abaixo a cabeça, finjo nem notar
Só vou chorar quando a chuva começar
Acho estranho te contar, acho complicado admitir
Espero que vejam através de mim, além de mim

Pareço estar anestesiada, entorpecida
Enquanto todos falam sem ter o que dizer
Eu acho irônico, acho rotineiro
Todo mundo andando sem poder enlouquecer

Ninguém me conhece, ninguém sabe quem eu sou
Os momentos em que eu me perco
São os melhores que eu já tive
Sou translúcida, me atravesse

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Entrelaço

Rostos descolados, caídos no vão da escada
Sorrisos desbotados, jogados no canto da sala
Pedaços do mundo inteiro diluídos em metros quadrados
Passado presente, futuro esboçado
Vivência sentida, experienciada

A expiração delonga e abrevia, delonga e abrevia
A inspiração aprofunda e emerge, aprofunda e emerge
Enquanto os fios dourados atrapalham ajudando
E a barba cerrada risca e arrepia toda a meia palidez
Transborda, completa, contempla da melhor maneira que se possa ser

As mãos deslizam, buscam, encontram
Os pés se esticam, aproximam, alcançam
A madrugada atravessa tudo em espirais
A gente só canta os trechos de música que mais convêm
A gente só diz a verdade sem se permitir dizer

Vontade, intenção, satisfação
A minha vontade na sua faz todo sentido
A sua intenção em mim se faz entender
A satisfação suave nos permite não dizer
Silenciar e enrolar

Devo dizer que enquanto eu não sei dizer o que é real
Se fui mesma eu que te inventei,
Vou é continuar inventando