quinta-feira, 30 de março de 2017

Menstruação: um relato de uma relação de amor e ódio (e depois vem mais amor) [Prólogo e Parte I]



Mais de um ano que eu não postava nada aqui, mas sigo sendo e sentindo a poesia.

Hoje escrevi sobre a minha relação com os meus ciclos, as minhas luas, o meu útero e meus ovários, escrevi sobre a minha relação com a minha menstruação. Inspirada pelas últimas lives da Melissa, sobre a Vida sem Pílula, parei pra refletir (mais uma vez), sobre o meu processo de menstruação, pílula anticoncepcional e reconexão com os meus ciclos, depois que parei de tomar a pílula há mais de um ano. Dessas reflexões saíram 7 páginas de texto no word, sim SETE páginas. Eu dividi toda a minha experiência em basicamente um prólogo e mais 11 capítulos, ou partes. Nos próximos dias vou aos poucos postando a cada dia uma ou duas partes.

O relato é extremamente íntimo e pensei bastante sobre compartilhar ou não, veio um receio de se sentir exposta e aquela pontinha de vergonha que surge sempre que falamos sobre algum assunto que ainda é um tabu. Mas depois de pensar e refletir um pouco, cheguei a conclusão de que tem tanta mulher passando pelos mesmos apertos e alegrias que eu passei e continuo passando. Pensei também que talvez, na hora do aperto, elas se sintam perdidas e sem saída, e se somente uma delas conseguir ler meu texto e se sentir mais acolhida, ou menos esquisita, eu vou ficar extremamente feliz. Como psicóloga e terapeuta, uma das minhas motivações é acolher as pessoas, fazer com que elas se sintam entendidas e acredito que meu relato possa ajudar alguém. Também acredito que como psicóloga e terapeuta (que está começando a focar no trabalho com mulheres), desconstruir esse tabu sobre a menstruação e os nossos ciclos, é fundamental. Só podemos nos conectar profundamente com o nosso corpo, se soubermos como ele funciona e não tivermos medo, vergonha ou receio da nossa menstruação, que é algo tão natural.

Por isso hoje, publico o prólogo e a primeira parte aqui.

Menstruação: um relato de uma relação de amor e ódio (e depois vem mais amor)

Prólogo

Vou relatar um pouco da minha experiência com a menstruação aqui. Vou tentar ser breve, mentira nem vou (xD), essa experiência merece atenção, tempo e cuidado, porque foram muitas vivências nos mais de 10 anos com anticoncepcional e nesses 15 meses sem anticoncepcional. Já trabalhei e continuo trabalhando tudo isso na terapia e também fiz terapia de acompanhamento de ciclo, em que resgatei todas essas vivências, escrevi uma carta pra minha donzela, aquela que tinha acabado de menstruar, então hoje em dia é mais fácil falar sobre e colocar tudo no seu devido lugar.

Parte I - A Infância

Vou começar do começo mesmo, das primeiras coisas que eu me recordo sobre menstruação. Eu me lembro de quando eu ainda era criança. Eu achava que ficar menstruada era doença, ou algo que debilitava muito a mulher, pois minha mãe chegava a ficar de cama quando estava nos primeiros dias do ciclo. Inclusive, vou contar uma historinha de quando eu e meu irmão éramos pequenos, pra dar uma noção de como a gente enxergava essa treta misteriosa que era menstruar. Eu e meu irmão fazíamos aulas de natação e um dia meu irmão falou pra professora que estava menstruado, por isso não poderia nadar. A professora riu, achou bonitinho e perguntou para o meu irmão o que significava estar menstruado, ele prontamente respondeu “menstruado é ficar cansado, sabe? Sem vontade de fazer as coisas.” Minha mãe também tinha MUITAS alterações de humor e ficava extremamente impaciente e brava na tpm. Eu e meu irmão brigávamos muito quando crianças e isso foi o que sempre testou a paciência da minha mãe. A tpm era sempre a época em que ela mais batia na gente e ficava mais brava. Acabei associando menstruação com coisas bem lights: ficar de cama, cansada, brava, impaciente, doente e debilitada.