terça-feira, 14 de junho de 2011

Contrato

É para ser assim mesmo? Eu sou do tipo que se acostuma com certos sentimentos de intensidade. E é um acostumar-se sincero, apaziguador que me ensina a viver enquanto o não dito fica adormecido. Sou aguda e não crônica: explosões dizem muito sobre mim, e o que resta depois não são só os destroços, mas uma reconstrução regada de suor e sangue, beleza intrínseca, desenvolvimento notável e crescimento exponencial.

Mas de repente mudam todas as cartas do jogo, e eu, que pressentia revolução, me encolho no canto: a criança assustada. O adulto, a mulher dentro de mim, sabe muito bem o que quer, é altamente confiante e decidida, mas a criança só tampa os ouvidos e embala seu corpo pra frente e pra trás, sussurrando pra si mesma uma canção de ninar. Eu sei o que quero e nem sempre sei o que preciso, mas quando os sinais começam a brotar a cada passo, só reafirmo o que já sei.

Enquanto o medo me circunda, reluto, invento desculpas, escondo a verdade. E eis o resultado, o mundo lá fora cercado de poeira, indecisão, chuva, nuvens, incerteza, a maior desculpa de todas: tempestade em forma de receio. E é quando a criança pode sair de debaixo das cobertas que a coragem aparece, em sua forma mais heróica. A tempestade se dilui, e a criança briga, se enfurece, mas o adulto não vai deixar ela tomar conta da casa dessa vez.

Os passos que precedem o incerto são sempre mais longos, o tempo se distorce mesmo, e cada movimento interno é sentido com intensidade tamanha, que posso contar da inteireza desse universo dentro de mim. Enquanto caminho a calmaria toma conta, é a felicidade em forma de completude, que de vez em outra toma conta de mim.

Dá pra ser muito mais sincera e adulta quando se está, feliz, sabe? As palavras fluem, a calma toma conta até mesmo dos discursos mais complexos, mais racionais, ou mais sentimentalmente intrincados. Nesses instantes dá pra perceber sim, que meu sistema operacional sabe lidar muito bem com os sentimentos e com as razões, fato que costumeiramente não constato.

Poderia ser uma grande sorte, ou o maior azar do mundo, ser amada, respeitada e abraçada, em cada pedaço do meu ser. Eu costumo escolher primeiramente a opção que mais se desdobra em indecisão, drama e turbilhão, pois os dramas também são quem sou e a poetisa anseia por eles. Ela adora fazer da própria vida um embate, mas é só quando narra as batalhas épicas em palavras, escritas, ditas, lidas ou pensadas que o drama pode se atenuar e se transformar em realidade e contentamento. A felicidade vem depois, não é conseqüência direta de nada assim tão tangível, de nenhum motivo delimitado, mas ela anda dando as caras com uma freqüência oscilantemente linda, muitas vezes regada por incenso, música e olhos fechados.