domingo, 29 de agosto de 2010

Vinte e hmmm

Exemplifico agora o que é ser hoje o que não fui anteontem e o que mal fui ontem. Ainda não sei muito bem em que isso implica, como a diferença se concretiza em mim, mas basta dizer que em abstração sei o que entender. O cansaço do apreender pelas metades pesa, quase me anula.

Chega mais perto, desliza teus dedos nos meus, encosta tua pele na minha, encerre teus lábios nos meus. Enquanto sua barba roça levemente no meu pescoço eu só sei que esse cansaço vai embora e você me faz mais feliz.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Meu ser

Deixei meus olhos vazios por aí, sobre a soleira de alguma porta desconhecida. Pouco me importa quem os encontrará, pois aqueles olhos estáticos já não pertencem a mim, vieram do mundo e ao mundo retornam.
Olhos vidrados em algo tão belo que nunca existiu, mas, de uma forma indiferente, se perdeu com o tempo. Vidrados em um mundo que não mais me condiz, mundo que esses olhos guardam insistentemente, com um último suspiro de irrealidade. Mundo que me perde e ganha esses olhos. Meu prêmio de consolação: mentem para mim, como se o mundo fosse só meu.
Mudança sutil, que escapou aos, antes meus, olhos parados na essência de um alguém, anteriormente presenteado com suas atenções e cuidados.
Olhos sem vivacidade e artificiais, não eram reflexos dessa alma cuidadosa e reprimida que escondo. Fortes e decididos, dispostos a enganar os espelhos que me rondam, porém não notam a perda dos olhos.
Meus olhos lhe dizem verdades incompletas, acreditam na sua falsa originalidade e fingem concluir que o seu sarcasmo não é infantil. Crêem que não magoa ninguém com suas tolices sórdidas e que os baques mudos não carregam consigo um significado tão completo.
Extensões não incluem a mim, agora refeita e crítica, em variações desse afeto mútuo. Contos de fadas não iludem a mim, agora racional e inconstante, em desfechos generosos de plena realização.
Seus risos me assustam, não provém de comentários inocentes, ou da felicidade em si. Provém de uma felicidade doentia, que se fundamenta no sofrimento desmedido de alguém que não merece. Sua ignorância não mais me comove, porque ela foi escolhida e considerada como ritual de iniciação. Sua indiferença só te reduz, não faço parte dela, só recebo seus feixes perdidos, sem direção.
Junto com meus olhos abandonei alguém que agradava aos seus espelhos...


Antigo, mas lembrei desse texto hoje depois de alguns acontecimentos triviais.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pedra, Papel e Tesoura

A pedra no peito não pesa mais. Provavelmente foi sendo corroída pelas ondas que batiam de forma cada vez mais certeira, ondas desse beijo imenso onde ela pôde se afogar. Ainda tentava decidir o que era menos arriscado e testava, mais uma vez, o que estabilidade queria dizer, que certezas eram impelidas ou impedidas.
A caixa de risadas estava inevitavelmente danificada, passara o dia sorrindo torto, com o sorriso quebrado e o riso desafinado. Não sabia o que isso queria dizer. Seria um atestado de que o contentamento não apareceria? Ou seria uma simples revolta, um atentado de auto sabotagem, lhe dizendo que não deveria rir quando a graça não se fizesse presente?
As costumeiras cordas da auto-repressão estavam frouxas, ela se sentia quase livre de quem precisava ser enquanto todo mundo a observava incessantemente. As palavras fluíam sem que ela sentisse algum controle direto sobre o que era dito.
Ela tentava entender como poderia sentir sem explicar para si mesma ou para o mundo inteiro. Ele tinha aquela tendência irremediável de racionalizar sentimentos irracionalizáveis e se sentia confuso, tentando apreender o motivo de ela, de vez em outra, virar tudo de pernas pro ar. Enquanto ela traçava cabides com as tolices costumeiras dele, ele insistia em trazer para ela intensidade desmedida: os dentes que se cerravam suavemente e os lábios sonoros.

(Pedra no peito emprestada do Chico Buarque e Beijo imenso onde eu possa me afogar emprestado dos Los Hermanos.)