terça-feira, 17 de agosto de 2010

Meu ser

Deixei meus olhos vazios por aí, sobre a soleira de alguma porta desconhecida. Pouco me importa quem os encontrará, pois aqueles olhos estáticos já não pertencem a mim, vieram do mundo e ao mundo retornam.
Olhos vidrados em algo tão belo que nunca existiu, mas, de uma forma indiferente, se perdeu com o tempo. Vidrados em um mundo que não mais me condiz, mundo que esses olhos guardam insistentemente, com um último suspiro de irrealidade. Mundo que me perde e ganha esses olhos. Meu prêmio de consolação: mentem para mim, como se o mundo fosse só meu.
Mudança sutil, que escapou aos, antes meus, olhos parados na essência de um alguém, anteriormente presenteado com suas atenções e cuidados.
Olhos sem vivacidade e artificiais, não eram reflexos dessa alma cuidadosa e reprimida que escondo. Fortes e decididos, dispostos a enganar os espelhos que me rondam, porém não notam a perda dos olhos.
Meus olhos lhe dizem verdades incompletas, acreditam na sua falsa originalidade e fingem concluir que o seu sarcasmo não é infantil. Crêem que não magoa ninguém com suas tolices sórdidas e que os baques mudos não carregam consigo um significado tão completo.
Extensões não incluem a mim, agora refeita e crítica, em variações desse afeto mútuo. Contos de fadas não iludem a mim, agora racional e inconstante, em desfechos generosos de plena realização.
Seus risos me assustam, não provém de comentários inocentes, ou da felicidade em si. Provém de uma felicidade doentia, que se fundamenta no sofrimento desmedido de alguém que não merece. Sua ignorância não mais me comove, porque ela foi escolhida e considerada como ritual de iniciação. Sua indiferença só te reduz, não faço parte dela, só recebo seus feixes perdidos, sem direção.
Junto com meus olhos abandonei alguém que agradava aos seus espelhos...


Antigo, mas lembrei desse texto hoje depois de alguns acontecimentos triviais.

2 comentários:

  1. ai carol, q triste... ficou parecendo texto de fim de relacionamento. isso, dado meu hábito de adotar como meus olhos alheios. rs

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  2. Nho, calma Gabi.
    Na verdade foi texto de fim de relacionamento sim, mas não de um relacionamento amoroso, e sim de uma amizade. =/ No terceiro colegial acho que acabei, sem querer parecer pedante, amadurecendo mais que um amigo meu e seguimos caminhos muito distintos. Ele começou a se divertir rindo da cara dos outros e aquilo me incomodou de tal forma que a amizade acabou...

    Mas eu e o anãozinho barbudo vamos muito bem, obrigada. hauahauahauahau xD

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