terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Desdizer

Tudo que me fizeste em enlace
Desfizeste nesse instante
Pudera nascer teimosia
Em palavras escassas?

Tudo que mentiste em suavidade
Desmentiste nesse instante
Pudera trazer insensatez
Em letras ilusórias?

Naquele intempérie dissestes raio de sol
E em apenas uma nuvem tempestuosa
Acabaste de desdizer.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Quarenta e dois

Risadas nada contidas
Sueca de sobriedade altamente questionável
Cuba libre direto do túnel do tempo

Largue desse moralismo sórdido
Porque enquanto os arrepios percorrem todo o meu corpo
Mesmo nesse calor estafante dá pra perceber muito bem
Que a sua vontade na minha faz todo o sentido

domingo, 21 de novembro de 2010

Fita Métrica

É no mínimo irônico que enquanto ela se descabela com as possibilidades sensatas em horas impróprias você preserva a vaidade intacta, a cabeça erguida e a lucidez intocada. Isso quase irrita, só não chega lá porque as ondas de temperança quebram bem perto da praia. O sorriso se segue, esclarecedor, incrédulo, mas ainda sim intencionado.

Não é que chegando mais perto o sorriso parece fora do lugar, torto, enferrujado? A situação parece envolta por uma grossa camada de lucidez questionável e vaidade solúvel. A cabeça pende nos ombros, balançando para todos os lados, às vezes acertando a indicação de mirar o teto.

Enquanto ela se guia por quase nada, e entende não muito bem o que fazer quando ele entrelaça os dedos suavemente nos dela, você insiste em parecer impassível. Veremos o que acontece quando por trás do cimento trincado surgir sua borboleta.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desfibrilador - Dez oito

Desfibrilador - Dez oito

Somente porque isso tem que estar aqui, não faria sentido não estar, mas eu sinto que é mais da Gabi do que meu. Quem sabe um dia eu chegue lá...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Precedendo o dez

O que queima agora é algo além daquela cinza com resto de brasa de outros tempos. O fogo que surge não se explica com atribuições costumeiras: pessoas e ocupações. É um fogo que surpreende, queima por si só, com a possibilidade de que eu possa ser simplesmente quem eu me permitir ser, alguém aí entende?
Sem fim e sem começo, fluxo e intenção. O que aqui e ali se expressa, não passa da mais supostamente inexplicável constatação: sou sendo e muito mais.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

De Pernas para o Ar

Hoje foi o dia em que a menina ficou com os pés logo onde deveria se ver a cabeça. E não saberia explicar nada além disso, todo aquele alvoroço não lhe permitia. Pelo menos não hoje, não hoje.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Semana produtiva

Hm, duas resoluções cumpridas:

- Voltar pra academia, saindo da minha vida sedentária de comilança.
- Começar a terapia, já no oitavo período de Psicologia. (antes tarde do que nunca)

Agora surgem as consequências: meu peito e minhas costas estão doloridas; e além de eu estar alvoroçada por esse primeiro contato com ser paciente/cliente em terapia, acabei indo em duas psicólogas maravilhosas e agora não sei com qual das duas eu prossigo o tratamento. õ.o

Post inútil, só senti vontade de postar. xD

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Brincando com fogo

Tem dias em que eu realmente penso: deve ser tolice da minha parte ser tão transparente. Os dias de sorrisos se inverteram e a rotina nunca antes havia sido harmoniosa assim. Enquanto eu ando de peito aberto, as lágrimas ainda deslizam de vez em outra, devo assumir, logo quando a verdade me atinge mais uma vez. Mas eu sei que ainda prefiro andar por aí com o peito aberto do que com os braços cruzados e ferrugem no sorriso. Querendo ou não, eu me permito lamentar, enlutar e acho que justamente por isso sei fraquejar sem deixar de ser forte, sabe?

Ainda queima. Algo me engasga, porque agora não consigo mais gostar da forma como mentem para mim. E quando mesmo assim ainda me ludibriam e me fazem entender a diferença não vetada pelas entrelinhas, eu só posso me sentar na calçada, com os pés firmemente pressionados contra o asfalto e me desprender entre soluços. Depois que o momento de desrazão passa, me resta compreender o tangível e tentar mais uma vez ser egoísta de verdade, mesmo com esse meio egoísmo altruistamente estúpido relutando dentro de mim.

Com tudo isso em mente, os passos vão se arranjando. Acho que nunca fui muito de planos mesmo e me confunde essa intenção calculada. As mãos provisoriamente dadas podem não querer dizer muito e certamente entregam que a provisoriedade não é para mim, mas por enquanto é o que anseio e talvez até o que eu precise.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

You get what you need

É bem interessante, pra se dizer o mínimo, ficar triste, correr atrás do que eu sei que preciso, ao invés do que eu quero e ter paz de espírito com o coração apertado ao mesmo tempo. õ.o

Mantra dos Rolling Stones que me rege:

"You can't always get what you want/ But if you try sometimes/ You just might find you get what you need!"

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tendendo a Perniciosa Melodia

O que dizer sobre a mais completa manifestação do que eu sou não sendo? Ainda tento entender se o que eu sou somente às vezes afeta profundamente o que eu viria a ser em algum instante. O que será que significa esse às vezes? Será realmente uma questão de freqüência, de medição precisa temporal, ou se trataria de algo de uma ordem de importância, o quanto eu valorizo cada ação executada? Acredito que nos últimos tempos o às vezes anda se tornando mais corriqueiro do que eu desejaria.
É extremamente complicado tirar um tijolo deteriorado depois que a parede inteira ficou pronta. Ainda tento descobrir como extrair esse pedacinho indesejável sem prejudicar a estrutura inteira. Ainda tento prever quando a parede toda irá desabar bem em cima de todos à minha volta.
E quando as notas se perderem soltas pelo ar, notas do estrondo que se segue a qualquer desabamento, o que há de vir? Quisera entender o que se passa em cada instante, memorizar as constatações imprevisíveis e realmente aprender com o que foi apreendido, ao invés de me deliciar por segundos que logo se esgotam.
Enquanto a ansiedade aos poucos me consome e o cansaço aos poucos me esgota só penso em como poderia ser se assim não o fosse. Melodias perdidas em expectativas infundadas e reticências mudas.

domingo, 29 de agosto de 2010

Vinte e hmmm

Exemplifico agora o que é ser hoje o que não fui anteontem e o que mal fui ontem. Ainda não sei muito bem em que isso implica, como a diferença se concretiza em mim, mas basta dizer que em abstração sei o que entender. O cansaço do apreender pelas metades pesa, quase me anula.

Chega mais perto, desliza teus dedos nos meus, encosta tua pele na minha, encerre teus lábios nos meus. Enquanto sua barba roça levemente no meu pescoço eu só sei que esse cansaço vai embora e você me faz mais feliz.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Meu ser

Deixei meus olhos vazios por aí, sobre a soleira de alguma porta desconhecida. Pouco me importa quem os encontrará, pois aqueles olhos estáticos já não pertencem a mim, vieram do mundo e ao mundo retornam.
Olhos vidrados em algo tão belo que nunca existiu, mas, de uma forma indiferente, se perdeu com o tempo. Vidrados em um mundo que não mais me condiz, mundo que esses olhos guardam insistentemente, com um último suspiro de irrealidade. Mundo que me perde e ganha esses olhos. Meu prêmio de consolação: mentem para mim, como se o mundo fosse só meu.
Mudança sutil, que escapou aos, antes meus, olhos parados na essência de um alguém, anteriormente presenteado com suas atenções e cuidados.
Olhos sem vivacidade e artificiais, não eram reflexos dessa alma cuidadosa e reprimida que escondo. Fortes e decididos, dispostos a enganar os espelhos que me rondam, porém não notam a perda dos olhos.
Meus olhos lhe dizem verdades incompletas, acreditam na sua falsa originalidade e fingem concluir que o seu sarcasmo não é infantil. Crêem que não magoa ninguém com suas tolices sórdidas e que os baques mudos não carregam consigo um significado tão completo.
Extensões não incluem a mim, agora refeita e crítica, em variações desse afeto mútuo. Contos de fadas não iludem a mim, agora racional e inconstante, em desfechos generosos de plena realização.
Seus risos me assustam, não provém de comentários inocentes, ou da felicidade em si. Provém de uma felicidade doentia, que se fundamenta no sofrimento desmedido de alguém que não merece. Sua ignorância não mais me comove, porque ela foi escolhida e considerada como ritual de iniciação. Sua indiferença só te reduz, não faço parte dela, só recebo seus feixes perdidos, sem direção.
Junto com meus olhos abandonei alguém que agradava aos seus espelhos...


Antigo, mas lembrei desse texto hoje depois de alguns acontecimentos triviais.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pedra, Papel e Tesoura

A pedra no peito não pesa mais. Provavelmente foi sendo corroída pelas ondas que batiam de forma cada vez mais certeira, ondas desse beijo imenso onde ela pôde se afogar. Ainda tentava decidir o que era menos arriscado e testava, mais uma vez, o que estabilidade queria dizer, que certezas eram impelidas ou impedidas.
A caixa de risadas estava inevitavelmente danificada, passara o dia sorrindo torto, com o sorriso quebrado e o riso desafinado. Não sabia o que isso queria dizer. Seria um atestado de que o contentamento não apareceria? Ou seria uma simples revolta, um atentado de auto sabotagem, lhe dizendo que não deveria rir quando a graça não se fizesse presente?
As costumeiras cordas da auto-repressão estavam frouxas, ela se sentia quase livre de quem precisava ser enquanto todo mundo a observava incessantemente. As palavras fluíam sem que ela sentisse algum controle direto sobre o que era dito.
Ela tentava entender como poderia sentir sem explicar para si mesma ou para o mundo inteiro. Ele tinha aquela tendência irremediável de racionalizar sentimentos irracionalizáveis e se sentia confuso, tentando apreender o motivo de ela, de vez em outra, virar tudo de pernas pro ar. Enquanto ela traçava cabides com as tolices costumeiras dele, ele insistia em trazer para ela intensidade desmedida: os dentes que se cerravam suavemente e os lábios sonoros.

(Pedra no peito emprestada do Chico Buarque e Beijo imenso onde eu possa me afogar emprestado dos Los Hermanos.)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Imiscuindo-me

Queria brincar menos de cotidiano, me arriscar a deslizar pelas possibilidades improváveis. Largando a certeza em um canto, subjugando a verdade e desdizendo as certezas. As distrações enganam em mim a obviedade lúcida, quisera questionar a sobriedade volúvel daqueles dias cinzentos de fim de calendário.
Os tijolos amarelos não mais podem me dizer onde devo ir, a estrada previamente traçada de nada serve, não se encaixa na nova construção mutável. E justamente quando os fatos duvidosos demandam minha atenção, insisto em não me deixar fazer entender, ignoro, contesto, mistifico, transformo universalidade em mero ponto de vista.
Os desabafos insólitos nunca ensejaram contar tudo que pudesse ser dito com poucas palavras e finalidades distintas. As letras se emaranham no papel, não permitem combinação alguma que venha a fazer sentido. As palavras se distorcem, perdem seu significado intrínseco, não completam esse raciocínio tão ilógico. As frases não comportam essa intencionalidade, grande parte desse todo é meramente vulto, espectro, sombra do que queria por vir-a-ser, é não-dito. As intenções transbordam, escorrem por entre meus dedos. O controle que me escapa vem para atestar o inevitável: a razão não elucida o que aqui se encerra.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Acordo

Tentei dizer sobre os gritos perdidos, os sonhos contidos e as verdades em ênfase. Sabia ensaiar por entre as vontades intensas que entendiam muito bem onde queriam chegar. Acho que sou mesmo assim, eternamente insatisfeita e mal resolvida, rogando por descanso, prevendo intensidade e cobiçando muito mais do que posso me permitir nesse instante de exaustão: minha pele na tua, vez após vez.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Vinte dois em vinte dois

Acho que todos tínhamos que ter em nós, um pouco mais de Gabi. Um pouco mais de intensidade, de paixão, de sorriso, de abraço e de poesia.
Nos seus vinte dois em pleno vinte e dois, te desejo telefones deixados de lado para cantar lavando louça sempre que julgar necessário, mas também te desejo muitos dias de canção compartilhada, de vozes alternadas e de deixar a louça mofando suja na pia.
Essas palavrinhas são só pra acompanhar o abraço que dei mais cedo e pra dizer que você e nosso grupinho de terça-feira (que deixa saudades até mesmo em dias de gramado) faz muita diferença em minha vida.
Ainda tento fazer de romantismo quase um exercício de lógica e um encadeamento racional de argumentos e só espero que você entenda.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Enfim, sem fim... [Setenta e Sete]

Malditas lágrimas que insistiam em se esgueirar por entre meus dedos gélidos cobrindo a face. Eu estava cansada de observar sempre os mesmos finais irremediavelmente felizes na superfície, porém totalmente fúteis e mórbidos por trás de suas máscaras. Só posso dizer que por trás de uma grandiosa máscara sempre existe outra máscara.
Também me cansei de realizar finais infelizes em superfície, porém tão cheios de significado. Não sabia mais se realmente desejava trocar meu contentamento por ser uma pessoa completa. Completude traz alegria? Independência? Isso tudo me deixa exausta, me empalidece e me torna alguém que não sei mais se desejo ser.
Acho que sou exatamente o que se pode nomear de alguém eternamente insatisfeita. Seria somente por um motivo: para mim, aqueles instantes mudos seriam eternos.
Sentia-me tão ingênua brincando de ser feliz. Tão ingenuamente invencível, inabalável e intocável. E mesmo assim, quando a brincadeira chegou ao fim, meus punhos ligeiramente cerrados (que outrora perderam uma briga contra a menina refletida no espelho, entretanto esse foi um longo dia) resistiam e tocavam o céu, esbarrando nas nuvens de algodão.
Eu continuava a pressentir que ali em um canto qualquer no fim da rua (o problema seria descobrir que rua, que fim, que canto...) alguém estava a me observar sentada na calçada. Não me agradava essa sensação. Nunca apreciei ter atenção de qualquer espécie voltada para mim. Sempre fui o tipo de garota que prefere passar despercebida, praticamente invisível, em meio a multidão, apesar de isso acabar me gerando problemas de outra ordem. Preferia não ser notada para não ter que virar alvo de comentários, entretanto parecia ironia que por motivos desconhecidos eu sempre sentia uma presença a me observar com seus olhos fugazes.
Quem eu era afinal?
Sentia-me um tanto criança, as pontas dos meus pés displicentemente tortos remexiam o asfalto, enquanto meus calcanhares se erguiam em direção a calçada e o meu sapato xadrez escorregava suavemente dos meus pés.
Sentia-me um tanto adolescente, uma mão repousada no queixo, conferindo um ar de quem reflete sobre o mundo inteiro, ou só sobre seu próprio umbigo e a outra arrumando o cabelo recém aparado com muita coragem.
Deveria sentir-me um tanto adulta, é o que gritam o passar das estações vividas, mesmo que minha existência me dissesse o contrário em meio aos berros.


Série de textos velhos, do ano passado, mas agora que comecei a postá-los, postarei todos. xD

terça-feira, 15 de junho de 2010

Técnica

Constantemente assim. O esforço mudo diz muito. Não posso parar e deixar o tempo só passar por mim. As teclas em melodia ilustram o que a verdade faz comigo: faz de mim o que quiser. Até parece que é assim, sendo capacho sou empenho e o que eu ganho? Nada, ou quase (um quase ínfimo) nada.
É justamente em uma hora dessas que a fúria transborda. Misto indescritível, difícil de adivinhar. Desejo velado, ou escancarado, não poderia dizer sobre os arrepios ausentes. A dedicação engendrada, a falta de palavras, simplesmente invontade em dizer. E de que adiantaria? Essa frustração agora é passageira, mas vai se somando a tudo mais que passa até que chegue um momento em que o passageiro se faça presente, constante. E quando essa hora chegar, o que hei de fazer?
Deveria me esforçar em ser mais metódica, menos envolvente. Continuo esperando de mim mesma mais do que posso oferecer. E o que me resta? Tudo que sobra me falta, endivida-me. O que poderia dizer sobre as frases ausentes, faltantes em intenção? Por que tantas perguntas se as respostas são fugidias? Queria poder abraçar essa intensidade, sem saber o que virá. Queria poder cerrar os dentes e aprisionar minha voz, entorpecer a garganta insistente.
Eis que outra vez fico de pés no chão e rosto contra a parede. Os dedos estendidos tateiam o vidro turvo e tentam alcançar lá fora. As mãos gélidas deslizam pela cortina encardida. O alvoroço que se arquiteta pela janela afora só reafirma o conhecido: “É, cansei”.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Hoje vai ser UMA? feeesta

O que fazer quando dois dos homens mais importantes da sua vida fazem aniversário no mesmo dia? Escrever dois testimonials descabeçados pela manhã, logo depois de acordar, quando o mundo ainda não se encaixa nos ideais esperados de racionalidade e a realidade ainda se mistura difusamente com os sonhos e pesadelos da noite anterior, lógico!
Namorado

Sabe o que acontece? Ele faz TUDO errado!
Parte I: Olha pra mim, me acha sedução e zoa da minha cara até eu achar que ele não vai lá muito com a minha pessoa.
Parte II: Gamei, gamou, brinca com a minha mão e reclama sobre o cover dos The Beatles no meio do Londres.
Parte III: Me deixa sem rumo, fico sem graça brincando com a florzinha fúscia do meu cabelo, perco a flor, além do rumo.
Parte IV: Estamos obviamente juntos, ele viaja no dia seguinte e fica um mês longe do meu mundo, trabalhando, praiando, comendo carne moída e esporadicamente enfrentando enchentes destruidoras de malas.
Parte V: Vai pro sítio, de madruga - Zoombie Walk in Silent Hill, tosse até virar do avesso, logo depois compra barraca e saco de dormir para voltar.
PARTE VI: Viaja pro escafundó, de onde surge a nova dança do estado do Pará e fica lá até mesmo no DIA DO ANIVERSÁRIO DE 21 ANOS DELE! Pééém!

Ah, parabéns, meu bem. Que você continue sendo essa pessoa simplesmente extraordinária.
Te amo.

;*
Irmão
Ele definitivamente não é uma pessoa normal.

Nas festas fica sentado, enquanto as outras pessoas batem cabelo e agem como se ninguém as visse fazendo o que elas queriam fazer se ninguém pudesse vê-las. Já dentro do carro, enquanto eu fico de estômago ruim e de cara feia pro Elton John com seus ternos de lantejoulas e purpurinas no som, ele dança com o Romance Ruim da Lei de Gagá, ou com a música do Antes de Cristo/Depois de Cristo que vieram da Corrente Alternada/Corrente Contínua de uma máquina de costura sobre a Autoestrada que conduz direto pro Inferno rindo da cara dos Zepellins com Leds azuis, que na verdade queriam ser de Chumbo e sua música sobre Escadarias pro Céu.

Pronto, taí o depoimento de alguém que faz conexões nada usuais, além duma breve história da música dos bons tempos: Roquenrou, baby. ;D E uma mençãozinha a popstar da vez, batida, mas "é o que tem".

Parabéns, maninho. Agora você é gente graaaaande 18 aninhos. ^^
E tenho dito: normal ou não, acabo me vendo obrigada a gostar de você.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Enfim, sem fim... [A Curiosa]

Ninguém saberia dizer quando começaria, mas aquela brisa inconfundível de verão em pleno inverno atestava uma coisa: todas as cores do mundo não tardariam a vir. O momento era único e perfeito, mais perfeito do que único. Ela fechava os olhos e de repente sentia uma onda de calafrios que percorriam seu corpo inteiro em sentidos aleatórios. Ela podia sentir claramente pelo menos três deles se não desviasse o pensamento. O primeiro começava nas pontas dos dedos dos seus pés e subia até seu último fio de cabelo. O segundo se movia em círculos nada uniformes por seus braços. Outro deles escorria por seu pescoço, mudando de direção e seguindo por suas costas. O momento fora aquele e alguns segundos depois acabara.
A menina ficava só sentada na calçada, com as duas palmas do pé apoiadas no asfalto e o peito comprimido contra os joelhos parcialmente cobertos pela renda branca do vestido. Ela não conseguiria verbalizar tão enorme descontentamento que a invadia no dado instante. Era sempre assim! Em um momento ela sentia como se soubesse a resposta para todas as suas indagações e já no momento que se seguia ela se sentia completamente inócua e ignorante.
Uma blusa muito fina estava jogada nos seus ombros, os quais de outra forma ficariam nus. A fita de cetim que lhe enfeitava os cabelos ia caindo lentamente, ao passo que ela desabotoava seus lábios e sussurrava de leve, como fazia quando era ainda criança, só para vislumbrar o rastro de fumaça que se desprenderia no frio cortante.
Ela sabia, intuitivamente que eu a observava por entre a neblina opaca. E duvido que pudesse não saber como eu a admirava com todas as minhas forças. Eu, sempre tão distante e curiosa, sempre tão ausente enquanto presente. Admirava a forma como ela levava sua vida e parecia distraidamente não se dar conta de que cada atitude memorável e firme que ela tomava não era por mero acaso, tudo aquilo era totalmente premeditado por sua inocente sabedoria.
Depois de muito tentar ser bem resolvida, decidi de vez: o melhor é abraçar essa minha angústia que muito duvida, quase sempre não sabe e de vez em outra produz.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Equação

É sempre assim, durante a semana eu corro daqui e dali, me desdobro na tentativa de fazer da menina uma psicóloga. Os dias de feira se arrastam pelo calendário encardido, são os dias de palavras flutuantes, resignificações, confronto com as verdades infames desse mundo de entendimento duvidoso. Sufoco, desespero, correria, exasperação, chateação, conflito, decepção, inverdade, vieses, incompletude e desesperança. Palavras, frases, sentidos, críticas, construção, juízo, acordo, compreensão, desdobramentos, linguagem, comunicação, interesse, atenção e desesperança transitória. Renovação, evolução, revolução e probabilidade, talvez completude. Mudando algum mundo.
Os dias de feira se encerram, aí surge uma outra possibilidade. São dois dias e meio que passam em dois segundos e meio, independentemente do quão suavemente as mãos se enlacem. Importância, intenção, mãos, beijos, pele, desejo, calafrios, afeto, vontade, anseio, estímulo, essência, olhos fechados, elogio, admiração, palavras, enfim: amor.
Meus pensamentos saem da burocracia tão adorada e odiada e se focam em desrazão, nessa irracionalidade imprevisível. Meu fim de semana é você. A noite de domingo chega e parece irreal entender que a saudade já pesa antes mesmo de você ir embora. As obrigações aparecem, a realidade me atinge e chegam os dias de páginas e racionalidade.
E é assim, pouco me importa que os dias de descanso acabem e os esforços me inundem em outra segunda-feira cada vez mais caótica. Meu fim de semana só poderia ser você.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Metonímia

Queria saber dizer o que acontece quando todas as verdades parecem ganhar lugar devidamente apropriado. Não sirvo para ser bem resolvida, pois as turbulências que se seguem atestam a verdade fugidia. Assim tento constituir no indescritível um sentido, síntese das idéias difusas que rebatem aqui dentro.
É uma vontade de que a intencionalidade se concretize, no entanto, pressinto uma total falta de disposição e simplesmente me entrego. A desistência me angustia, me corrói, me inunda. Enquanto o aperto na garganta insiste, o mais puro dissabor me invade. É assim, antítese do que me faz respirar cada vez mais fundo.
Os dentes se cerram intensamente e os olhos vão perdendo força, aos poucos vão pesando. Enquanto o peito exposto se descortina cada vez mais, surge aquele receio inevitável de não saber onde começa e onde termina cada sorriso. Cada sorvo inebriante retumba uma consternação que pouco se explica e muito se experiencia.
Não consigo manejar as palavras que despendem pretensões previamente estimadas. Sobram-me fonemas perdidos na satisfação de entender essas frases faltantes em letras e que transbordam sentido intrínseco. O sorriso que transparece indica algo que transcende o imediato, o claramente observável.
Vou sonhando até surgir em preto e branco a inverdade temida. Os momentos de tensão dão lugar a dias cada vez mais coloridos e incalculados. É o suspiro que encerra a realidade prenunciada: o medo de ser felicidade.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Soleira

A cabeça latejando, pesa
O peito que se aperta, sufoca
A garganta travada, em nó
Os olhos ardem, se fecham

Era assim
Não saberia explicar a urgência por inexistência
Queria poder encolher até sumir de vez, sem escapatória

Os dias se perdem na semana
As semanas dançam pelo mês
Os meses escorregam pelo calendário encardido
O tempo se reveste em fluidez inapreensível

Era assim
Falta de sentido, consternação.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Corrente

Começo é o prelúdio de alguma vontade
Vontade é a intenção que se faz em verdade
Verdade são as mãos que se entrelaçam
Entrelace são os corpos que se intercalam sobre o lençol riscado
Risco é o perigo manifesto de te querer bem
Bem é parte de mim que se faz tua sem saber
Saber é o entender que se fez espontâneo
Espontâneo é esse sorriso que surge mesmo sem cosquinhas
Cosquinhas são a síntese de uma afetividade inevitável
Inevitável é outra forma de mencionar a intencionalidade fugidia
Fugidio é nosso tempo que logo se distorce em meses
Meses esses que somam dois
Dois mencionados, ao teu lado
Lado dito, que me faz, a cada dia, feliz sem entender

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Blasé

A angústia que se prediz nesses olhos vazios
Faz parte dessa tristeza que não se explica
Palavras ocas: é marasmo
O nó na garganta palpita

As têmporas latejam incomodamente
O zunido ensurdece
A ignorância rebate
A fuga não mais me ludibria

De que me adianta escapar do mundo
Se um dia hei de voltar?
Não me serve mais falar do descontentamento nas lágrimas que se seguem

É assim, engulo o choro
Esboço algo que lembre um sorriso
E traço poesia

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Racionalidade flutuante

A cabeça lhe escorregava de cima dos ombros. Descendente de tudo que lhe dizia respeito, parecia solta por todos os cantos. Os becos escuros da insistência lhe assopravam todas as respostas que ela insistia em refletir, com a cabeça solta e os joelhos relutantes. O bocejo surgia para denotar algo que não lhe condizia. Sabia muito bem falar sobre a simultaneidade dos fatos reclusos.
A mão puxava para trás os cabelos curtos. A nuca exposta tentava absorver cada resquício da leve brisa que se espalhava no ambiente. O calor estafante a sufocava, a angustiava. Já as palavras que se seguiam sugeriam algo mais que uma constatação nova e surpreendente. Era a novidade mais velha de todas, a obviedade mais reluzente de todos os tempos. A verdade na ponta da língua, no cerne dos braços, no íntimo dos passos.
Algo diferente surgia da rotineira troca de palavras. Aquela sensação de que o seu tudo dependia dela e somente dela. Todo o poder nos pés e a cabeça que flutuava não expressava mais a impotência inicial. A intoxicante e inebriante percepção de que o azul do céu era tudo que ela precisava naquele momento. Deitada sobre a grama, uma mão repousava suavemente sobre a cabeça avulsa, confundida no verde esmeralda.
Saberia explicar as vontades constantes, as realidades presentes e as intenções previstas. As nuvens que se moviam lentamente no céu riscado a fizeram chorar, só daquela vez, derradeira e inexplicável, mas fizeram.
Descender, desdizer, desmentir, desmistificar, desenraizar, desapegar, desprender, entender. Assim, transcender. Desrazão?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Último baque de entendimento

O som que ecoa por todo o espaço. O céu desaba, pouco a pouco, em segundos irreconhecivelmente idênticos. Todas as luzes oscilam em uma claridade vazia e desnecessária. Tudo fica assim, meio blasé, em um semi-amarelo, semi-estruturado.
A voz segue inferindo palavras de reconhecimento. Enquanto lá fora o mundo acaba, gota por gota, vez após vez. O dispensável ganha valor inestimável, com todos os tons marfim que se poderia ter.
O excesso de ruídos secundários a confundiam. Os fragmentos de familiaridade e suposto foco se misturavam, inevitavelmente, com todas as notas de um cotidiano nada rotineiro.
Fora um dia que começara duas vezes. A melodia que se perdia naquelas quatro paredes isentas de verdade, ou melhor dizendo, alheias a realidade. O raciocínio comprometido, característico dos primeiros instantes da manhã, não a permitiu reconhecer sua falta de intencionalidade. Momentos depois, o dia começara outra vez. Três janelas, duas vontades e um dia pela frente a convenceram de que o sorriso não era mentira.
Enfim, desconfio que seja assim mesmo, juntando um pouco de tudo eu consigo o que quero, o que preciso ou simplesmente o que posso. A seriedade denotada no rosto tinha pouco ou nada dizer, dada a intenção que a precedia.
Cômico pensar que quando se entende o essencial, as outras verdades se esvaem e um gesto sutil reafirma o que se faz presente. Podia ser inconveniente saber o que julgava conhecer em meio as palavras pouco suaves e os risos que caiam jogados nos azulejos riscados.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Enquanto o mundo gira

Dia de música, de conversa, de surpresa, de finalidades, de estupor. Período de mãos dadas, de sobriedade questionável e lábios revolvidos.
O rubor no rosto pouco tinha a atestar. Os sussurros cortavam a noite muda intensamente. As vontades se enlaçavam por entre os lençóis riscados, enquanto as mãos se encontravam de vez em outra, perdidas nas intenções previstas.
Verdades ofegantes transpareciam em meio ao silêncio que ricocheteava nas quatro paredes. Era noite de prelúdio, de desejo, de palavra e de outro tanto não mencionado. Os anseios que deslizavam por entre as duas possibilidades cortavam a madrugada obscura, enquanto os dedos longos tentavam se agarrar ao que pudessem.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A terceira, da direita para a esquerda

O que fazer nos dias de intensidade vazia e olhos fechados? A familiaridade ausente no ambiente costumeiro tinha algo a dizer. Ela continuava omitindo o mais óbvio na forma de uma raiva fugidia, enquanto os nós dos dedos, sobressalentes, se apertam contra a madeira avermelhada.
Ela não conseguia apreender muito bem quem era. Na verdade, não conseguia mesmo e ponto final. Poderia dizer que quase apreciava distrair as situações, enganar as vontades e negar os motivos. A garganta em nó nada mais queria afirmar do que uma angústia fundada em não saber. As palavras se misturavam àquela sensação ímpar que lhe roubava não só o ar, mas também a certeza.
Com todas aquelas vozes soltas, flutuando no espaço vazio, ela fingia não ouvir cada palavra com os olhos cerrados e a atenção aparentemente distante. Os olhos fechados conseguiam entender cada instante enquanto se faziam passar despercebidos.
O chão acinzentado e opaco refletia fracamente todos os anseios nada oportunos. As paredes brancas e irregulares a sufocavam. A porta semi-aberta rangia insistentemente. A cabeça lhe pesava sobre os ombros, as idéias esparramadas de forma sutil e silenciosa cansavam. Os suspiros aspiravam serem notados por um ou mais sorrisos no fim da fileira. As aspirações suspiravam tentando se predizer em outras intenções.
Queria tanto atentar-se para o que sabia espontaneamente e sem meias- palavras sistematicamente mensuradas, antes de tudo lhe atingir os olhos que se apertavam mais uma vez, uma última vez. Os olhos, agora abertos, se embaçavam ao se depararem com a luz excessiva.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Transparência e Mariposas

Pouco me resta
Esse farfalhar constante
As asas que se agitam, se movem
O debater de um entendimento

As vontades que incendeiam uma parede
O pensamento que acende no instante
O iluminar que escapa por cada fresta

Nessa sinestesia de fascinação
Uma atração que se traduz em não saber
Instigando um instante
As palavras somem, a essência se faz

Em trânsito livre: cá estou
E não estou mais
As letras deslizantes da mais singela expressão
O sentido que se perde, para logo se encontrar

Um caos controlado
Um ócio ocupado
Uma possibilidade disponível
Um berro contido

Reações ao insistir dos mais insistentes
Meu espetáculo prescinde da platéia
Cada possibilidade ao meu dispor
Pouco demando, síntese de imprevisibilidade

Seguem, insubordinadamente, rastejando
Transgridem, aos poucos, a obviedade lúcida
Incomodam, irritam, perturbam
Debatendo-se pela intencionalidade da desordem, desrazão

Vou assim, misturando tudo
Confundindo o ontem, o hoje e o amanhã
A verdade insolúvel
Os insetos desejantes
A expectativa inconstante

sábado, 23 de janeiro de 2010

3 palavras

Não posso me permitir mais somente dançar na frente do espelho, embalada por essas meias verdades disfarçadas no tecido branco do vestido. Preciso de uma concretude presente, um instante quase perfeito, uma aptidão incontestável ou quem sabe uma certeza momentânea.
Minha volatilidade aparece nas ocasiões menos oportunas. Convicção não é um termo exatamente recorrente no meu repertório diário. Faço estável essa necessidade de ser instável, quase o tempo inteiro.
Se por um instante fui poesia, no outro já fui a tristeza mais profunda que só quem traceja essas mal traçadas linhas de grafite entende o que quero dizer. Sou assim, infinita inconstância que pouco entende e pouco tem a entender.
No outro instante explodia em felicidade imensa, felicidade que me encobre inteira e de forma tão simples e completa que o mundo pára de ser o nosso mundo só por um instante. Chegue um pouco mais perto, quero te contar todas as minhas verdades mais secretas, aquelas que até mesmo eu me esqueço que existem dentro de mim. Te digo três palavras só por um instante e assim começa o meu novo mundo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cosquinhas

Era um dia, inevitavelmente, de sombra sob a árvore. O mundo deixava de ser: as inverdades no asfalto ardente, para surgir uma vontade de céu azul e nuvens de algodão. Fora um dia daqueles em que se esquece, propositalmente, os anseios que a faziam ser quem era. As frases incompletas e os olhares de relance demonstravam muito bem que a familiaridade era constante.
Mas como tudo que a afastava dos pensamentos da burocracia, o dia acabaria. Acabaria bruscamente, com os três segundos ganhos e a vida perdida. Tentava se lembrar do motivo que a trouxera um dia de presente, no entanto o contentamento insistia em se ausentar.
Uma palavra só. Singela palavra, quase estúpida. Mesmo assim ela não conseguia conter as risadas, nada discretas, que lhe subiam a garganta. Era tolice se permitir rir assim, às onze da noite de um domingo cinzento e estafante, mas mesmo assim ela ria e ele pouco (ou nada?) entendia.
Uma só palavra. A verdade que gritava uma lembrança do que nunca sequer se fez presente. A palavra que ditava a proximidade que surgia em um só segundo, a palavra que ela conseguia muito bem entender, lhe faltava, obviamente, a explicação. A palavra era assim, simplesmente inexplicável, tendo tanto a dizer enquanto todas as outras palavras não conseguiam ser suficientes.
Uma palavra. O afeto que se mostrava na impossibilidade de não se importar, de não se lembrar e de não criar afeto. Soava absurdo agir tanto como aspirante a poetisa, e dar mais valor às palavras do que elas contém, porém era inevitável. Enquanto ele ficava por entender, ela só ria, sorria e repetia, para si mesma, uma palavra, uma só palavra, uma palavra só.
Essa síntese de tudo que lhe fazia tão bem, em uma só palavra. As “cosquinhas” nos dias de penumbra ainda viriam lhe esboçar um outro sorriso.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Calafrios

Aqui dentro

O nó na garganta aperta, palpita. A pedra vai pesando, aos poucos. As têmporas latejam, persistem. O estômago revira, pouco entendo. O ar que me falta, sufoca.
As verdades roçam suavemente pelo meu rosto. Pouco saberia dizer sobre as vontades que insistem, gritam e me tiram o sono. Se ninguém compreende o que falo vez após vez com os olhos fechados e os pés no chão, o que tenho a atestar?
Brevemente, posso enxergar as palavras pálidas que deslizam por entre a melodia. As palavras que se fizeram de canção tinham sentido? Não seria somente a intenção se fazendo presente nessas letras que nada explicam? É assim, em um baque, as notas se insinuam em meio ao ambiente ecoante e a falta de ar que inebria me atinge.
O soneto se fazia de dissonâncias confusas e harmonias inexplicáveis. A visão fica turva e as pernas já não sabem bem por onde vão. O que seria essa vontade indescritível de simplesmente se deixar levar pelo descontentamento? As pessoas passavam por mim e tudo fica assim, meio desbotado, um tanto blasé.

Lá fora

As mãos gélidas empalideciam cada vez mais, enquanto o vento batia na janela carmim. A expressão dela, quase cadavérica denotava uma mudez quase intencional. Os seus olhares furtivos pareciam sem propósito. Ninguém notava seu silêncio desesperado.
Era outro daqueles dias, inevitáveis, dias de marasmo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Km 664

Antes essa inverdade inutilizada do que aquele otimismo vazio, aquele sorriso enferrujado, aquela certeza oca. Queria saber dizer dessa solidão manejável, com todas as palavras em ordem e os predicados no lugar. As luzes que se desdobravam pela noite com fim definido só faziam embaçar as razões.
As árvores laterais viram nada mais do que um borrão verde enquanto as teclas cantam e as letras se seguem. O barulho do vento se espreme por entre as frestas da janela e ensurdece. As vozes se misturam naquele pequeno espaço e as intenções não surgem. Uma vez...
A claridade sensibiliza os olhos semi-cerrados. As mentiras ficam reclusas, desnecessárias. O acinzentado do céu explica. E o controle que escapa? Vou tentar fugir dessa chuva antes mesmo de ser inundada de entendimentos.
As vontades se desfazem por trás de cada palavra dita, de cada racionalização forçosa. O asfalto remendado exaure.

domingo, 10 de janeiro de 2010

118 - Memórias de cristal

A princesa canta enquanto pula no colchão de molas. Dizem que nunca fora princesa, mas ela sabe que é e pode provar: a quase imperceptível coroa em sua cabeça não permite que ninguém desminta a sua realidade.
A garota fica a cantar uma música tola e apaixonadinha. Uma canção que ouviu em um dos vinis dos seus pais. Ela se lembra muito bem de todas as cores, desenhos e detalhes do encarte, mas não se lembra do nome da banda e do disco. Ela é conhecida por guardar detalhes desnecessários e esquecer o que é imprescindível.
Sua majestade cansa de pular e cantar aos gritos e deita já ofegante na cama. Ouve passos vindos do corredor e alguém bate na porta:
- Filha, vem jantar!
- Não estou com fome... Mais tarde eu como alguma coisa.
Os passos rumam de volta à escada. E o som dos mesmos vai se atenuando até ficar reduzido demais para que ela escute.
“Filha, vem jantar!”, que insolência! Amélia era uma princesa e nunca entendia porque todos a tratavam uma pessoa normal. Desde o último inverno tudo que sua mãe fazia lhe deixava nervosa, mas tratá-la assim, como uma simples pré-adolescente era o que mais a enraivecia. Afinal, a sua maior, e talvez única certeza era a de que fora achada em algum lugar perdida e depois adotada, já que aquela família era normal demais para possuir um membro legítimo da realeza.
Se ela se esforçasse bastante conseguia até fazer surgir uma lembrança: vagando pelas ruas chorando, com um vestido todo branco e com uma pequena coroa cintilante repousando sobre os cachos loiros. Mas não se lembrava de nada anterior a isso e também não se lembrava de quando fora encontrada pelos pais adotivos...
A prova de que aquela lembrança não era apenas um devaneio, repousava agora sobre os mesmos cachos loiros que apenas estavam um pouco mais longos. A coroa era bem pequena, afinal era quase que um souvenir do passado misterioso. Seus “pais” bem que tentaram escondê-la no fundo de um baú no porão. Eles sabiam muito bem que ela evitava ir lá por motivos inexplicáveis. Mas a curiosidade superou o receio e de tanto sonhar com a coroa, a casa inteira ela vasculhou até achá-la.
Ela ficava só pensando no motivo de eles esconderem tudo dela assim. Sobre o seu nascimento, adoção, pais biológicos. Ela já era uma mocinha e tinha todo o direito de saber sobre seu passado nobre. Afinal ela havia sido abandonada ou só havia se perdido?
Um tanto irritada com aquela corrente de mentiras, ela abriu a porta rapidamente, correu em direção às escadas e desceu as mesmas sem nenhuma cautela. No meio da descida ela tropeçou nos próprios pés e saiu rolando escada abaixo.
Ficou por um certo tempo inconsciente, ao acordar notou que não havia ninguém ali, ela parecia ter sido transportada para outro lugar... Um lugar todo branco, sem escadas, com apenas uma porta e uma cama velha sob um colchão de molas empoeirado. Ela olhava para todos os cantos tentando entender o que acontecia quando percebeu que a coroa não estava em sua cabeça e os cabelos não eram mais loiros e nem encaracolados.
Seus cabelos eram ruivos e muito lisos, um tanto desgrenhados e longos em demasia. Ela não compreendia nada, o que acontecera? Onde ela estava? Passava a mão no rosto e seu rosto, aquele rosto que não era o seu, era um rosto mais sofrido e mais antigo. E ao gritar de desespero percebeu que a voz também não era a mesma:
- Mãe, o que está acontecendo? Onde eu estou, mãe? Tira-me daqui!
E nada de resposta... Ela engole em seco, onde estaria sua mãe? Ela volta a gritar por ela e de repente ouve ao longe alguns passos e a voz de alguém que aos poucos vai se aproximando:
- Filha, vem jantar! Filha, vem jantar! Filha, vem jantar! – a voz vai ficando cada vez mais alta e ela percebe que aquela é a voz de sua mãe.
Ela corre em direção a porta e observa por uma fresta bem pequena alguém nunca antes visto passando e dizendo “Filha, vem jantar”. Essa pessoa repete a mesma coisa incessantemente com a voz da mãe adotiva da princesa.
Alguém lá fora percebe uma movimentação intensa vinda do quarto 57 e resolve destrancar a porta. É um homem de cabelos muito loiros e roupas extremamente brancas, com um meio sorriso no rosto:
-Liga não, essa é a frase da semana de Charlote. Agora mesmo eu trago seus remédios, apesar de você estar tão bem ultimamente. Melhor prevenir do que remediar, não acha, Desiré?
Edmond fecha a porta e se afasta vagarosamente, guiando Charlote pela mão direita. Quando ela não consegue mais ouvir os passos de Edmond e nem a voz de Charlote, Desiré solta um grito que lhe rasga a alma e as memórias de cristal se espatifam no piso branco.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

102- Cinzeiro

Ninguém mais se importa
Se o mundo desfalece
Ou algo lhe rouba
O que parece?

Ninguém mais tenta
Se a verdade atesta
Ou se lamenta
Nada lhe resta...

Ninguém mais arrisca
Se os sonhos vivem
Ou seguem à risca
Nunca antes temem?

Não queria essa consternação morta
Calada, repentina
Nem que se abra outra porta
Tal como chuva vespertina

Não queria esse pranto soluçado
Estático, vazio
Decidido por esse brado
Que tanto deprecio

Não queria esse nó
Que nem se encontra
Voltando ao pó
Que por vontade afronta

Such a tease, ashtray...

sábado, 2 de janeiro de 2010

Enquanto a menina dança

Era um dia como qualquer outro, ou quem sabe um dia como nunca se viu. Os olhos se fechavam lentamente, acompanhando cada nota muda que ressoava em cada canto daquelas quatro paredes sólidas, paredes lívidas, paredes sólidas como qualquer outra.
Insistiu em não dizer nem por um instante, talvez só por um, o que se passava. Insisti em procurar saber, mesmo percebendo, no âmago de meu ser, que a vontade por saber era inexistente, oca e injustificada. Queria mesmo me enganar no meio de uma trama de sinceridades indiscretas, nunca ousou me falar com os olhos de quem sabe o que diz, sempre tentou deixar claro que sua certeza era tão ínfima quanto a minha, uma certeza de quem procura compreender tudo sem entender uma vírgula sequer.
Disseram-me que tudo escutado eram especulações, idéias soltas no escuro, procurando se orientar por meio de nada menos que um pingo de luz que escapa pelas frestas do quarto inundado pela escuridão. E ali, naquele instante em que o mundo girava e eu tentava me localizar, um pingo de luz solto na escuridão não iria me fazer chorar, não dessa vez.
As lágrimas que rolavam pelo rosto pálido de quem já foi não eram mais minhas. E por ironia sádica e mórbida, não me senti orgulhosa por não deixar as lágrimas correrem. O nó na garganta latejava com toda força que eu sentia que nunca poderia existir dentro de mim. Era uma dor que não pesava, só incomodava, ficava ali, como para me recordar que eu era alguém merecendo ser lembrada de que o mundo vai além das minhas tristezas infundadas.
Nunca saberia dizer quando começava e quando, por fim terminou. Nem saberia dizer, naquele segundo hipotético e patético se o final seria final, se seria feliz, se viria a chegar ou se o mundo se tornaria outro a partir daquele momento. Não saberia dizer quase nada e aquele quase me incomodava profundamente mais do que o nada. Saber somente o que me arriscaria a saber era profundamente desgastante.
O mundo pode nem ter mudado, nunca descobrirei a verdade, já que eu sou eu mesma e nada além disso. Mas eu tenho certeza que o meu mundo mudou, meus olhos não são os mesmos e se forem eu me nego a acreditar nisso. A distração me lembrava que a verdade era a mesma de sempre, mas nunca mais seria aquela que eu pensava que era.
Enquanto eu girava lentamente e o meu vestido se embalava com o vento o mundo parou de ser como era antes. Não foi mais como era antes naquele instante e espero que continue assim sendo. Assim sendo, enquanto a menina (indecisa e feliz) dança...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Primeiro post

Hm, depois de muito tempo de idas e vindas (xD) resolvi criar um blog pra postar meus textos, poemas e etc. Espero fazer uma retrospectiva, postando pelo menos os meus eleitos favoritos, de diversas épocas em que escrevi. Enfim, espero que gostem. ^^
Aqui vai um textinho pequenininho só pra dar um gostinho de utilidade no post.


Tijolo Rubro

Fecho o caderno, o branco da página some, o vermelho recobre todas as minhas vontades de grafite. Fico assim mesmo, totalmente ou quase, estática, só entendo que emudeço. As palavras que sobram ficam todas despejadas no asfalto áspero.
Os borrões que passam nada me dizem. Queria saber externalizar essa intenção mesmo com os olhos abertos e os dois pés no chão. Disfarço a exatidão em mim mesma. Finjo não saber o que sei muito bem. Engano a sinceridade discreta de quem pouco compreende. O azul que pintava a janela acompanha meus passos ocos por todo o corredor.