sábado, 2 de janeiro de 2010

Enquanto a menina dança

Era um dia como qualquer outro, ou quem sabe um dia como nunca se viu. Os olhos se fechavam lentamente, acompanhando cada nota muda que ressoava em cada canto daquelas quatro paredes sólidas, paredes lívidas, paredes sólidas como qualquer outra.
Insistiu em não dizer nem por um instante, talvez só por um, o que se passava. Insisti em procurar saber, mesmo percebendo, no âmago de meu ser, que a vontade por saber era inexistente, oca e injustificada. Queria mesmo me enganar no meio de uma trama de sinceridades indiscretas, nunca ousou me falar com os olhos de quem sabe o que diz, sempre tentou deixar claro que sua certeza era tão ínfima quanto a minha, uma certeza de quem procura compreender tudo sem entender uma vírgula sequer.
Disseram-me que tudo escutado eram especulações, idéias soltas no escuro, procurando se orientar por meio de nada menos que um pingo de luz que escapa pelas frestas do quarto inundado pela escuridão. E ali, naquele instante em que o mundo girava e eu tentava me localizar, um pingo de luz solto na escuridão não iria me fazer chorar, não dessa vez.
As lágrimas que rolavam pelo rosto pálido de quem já foi não eram mais minhas. E por ironia sádica e mórbida, não me senti orgulhosa por não deixar as lágrimas correrem. O nó na garganta latejava com toda força que eu sentia que nunca poderia existir dentro de mim. Era uma dor que não pesava, só incomodava, ficava ali, como para me recordar que eu era alguém merecendo ser lembrada de que o mundo vai além das minhas tristezas infundadas.
Nunca saberia dizer quando começava e quando, por fim terminou. Nem saberia dizer, naquele segundo hipotético e patético se o final seria final, se seria feliz, se viria a chegar ou se o mundo se tornaria outro a partir daquele momento. Não saberia dizer quase nada e aquele quase me incomodava profundamente mais do que o nada. Saber somente o que me arriscaria a saber era profundamente desgastante.
O mundo pode nem ter mudado, nunca descobrirei a verdade, já que eu sou eu mesma e nada além disso. Mas eu tenho certeza que o meu mundo mudou, meus olhos não são os mesmos e se forem eu me nego a acreditar nisso. A distração me lembrava que a verdade era a mesma de sempre, mas nunca mais seria aquela que eu pensava que era.
Enquanto eu girava lentamente e o meu vestido se embalava com o vento o mundo parou de ser como era antes. Não foi mais como era antes naquele instante e espero que continue assim sendo. Assim sendo, enquanto a menina (indecisa e feliz) dança...

3 comentários:

  1. Tem certeza de que você é só "aspirante a poetiza"?

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  2. "Era uma dor que não pesava, só incomodava, ficava ali, como para me recordar que eu era alguém merecendo ser lembrada de que o mundo vai além das minhas tristezas infundadas.
    Nunca saberia dizer quando começava e quando, por fim terminou."

    Prima voce disse tudo o que eu tentava achar palavras pra explicar o que estava sentindo neste trecho.

    Muito lindo adorei

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  3. Thanks maninho e muito obrigada, prima. ^^

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