sábado, 20 de fevereiro de 2010

Racionalidade flutuante

A cabeça lhe escorregava de cima dos ombros. Descendente de tudo que lhe dizia respeito, parecia solta por todos os cantos. Os becos escuros da insistência lhe assopravam todas as respostas que ela insistia em refletir, com a cabeça solta e os joelhos relutantes. O bocejo surgia para denotar algo que não lhe condizia. Sabia muito bem falar sobre a simultaneidade dos fatos reclusos.
A mão puxava para trás os cabelos curtos. A nuca exposta tentava absorver cada resquício da leve brisa que se espalhava no ambiente. O calor estafante a sufocava, a angustiava. Já as palavras que se seguiam sugeriam algo mais que uma constatação nova e surpreendente. Era a novidade mais velha de todas, a obviedade mais reluzente de todos os tempos. A verdade na ponta da língua, no cerne dos braços, no íntimo dos passos.
Algo diferente surgia da rotineira troca de palavras. Aquela sensação de que o seu tudo dependia dela e somente dela. Todo o poder nos pés e a cabeça que flutuava não expressava mais a impotência inicial. A intoxicante e inebriante percepção de que o azul do céu era tudo que ela precisava naquele momento. Deitada sobre a grama, uma mão repousava suavemente sobre a cabeça avulsa, confundida no verde esmeralda.
Saberia explicar as vontades constantes, as realidades presentes e as intenções previstas. As nuvens que se moviam lentamente no céu riscado a fizeram chorar, só daquela vez, derradeira e inexplicável, mas fizeram.
Descender, desdizer, desmentir, desmistificar, desenraizar, desapegar, desprender, entender. Assim, transcender. Desrazão?

2 comentários:

  1. "O calor estafante a sufocava, a angustiava. Já as palavras que se seguiam sugeriam algo mais que uma constatação nova e surpreendente. Era a novidade mais velha de todas, a obviedade mais reluzente de todos os tempos. A verdade na ponta da língua, no cerne dos braços, no íntimo dos passos."

    A melhor parte

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  2. Brigadinha prima. Escrevi sábado no sítio. XD

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