segunda-feira, 7 de junho de 2010

Enfim, sem fim... [A Curiosa]

Ninguém saberia dizer quando começaria, mas aquela brisa inconfundível de verão em pleno inverno atestava uma coisa: todas as cores do mundo não tardariam a vir. O momento era único e perfeito, mais perfeito do que único. Ela fechava os olhos e de repente sentia uma onda de calafrios que percorriam seu corpo inteiro em sentidos aleatórios. Ela podia sentir claramente pelo menos três deles se não desviasse o pensamento. O primeiro começava nas pontas dos dedos dos seus pés e subia até seu último fio de cabelo. O segundo se movia em círculos nada uniformes por seus braços. Outro deles escorria por seu pescoço, mudando de direção e seguindo por suas costas. O momento fora aquele e alguns segundos depois acabara.
A menina ficava só sentada na calçada, com as duas palmas do pé apoiadas no asfalto e o peito comprimido contra os joelhos parcialmente cobertos pela renda branca do vestido. Ela não conseguiria verbalizar tão enorme descontentamento que a invadia no dado instante. Era sempre assim! Em um momento ela sentia como se soubesse a resposta para todas as suas indagações e já no momento que se seguia ela se sentia completamente inócua e ignorante.
Uma blusa muito fina estava jogada nos seus ombros, os quais de outra forma ficariam nus. A fita de cetim que lhe enfeitava os cabelos ia caindo lentamente, ao passo que ela desabotoava seus lábios e sussurrava de leve, como fazia quando era ainda criança, só para vislumbrar o rastro de fumaça que se desprenderia no frio cortante.
Ela sabia, intuitivamente que eu a observava por entre a neblina opaca. E duvido que pudesse não saber como eu a admirava com todas as minhas forças. Eu, sempre tão distante e curiosa, sempre tão ausente enquanto presente. Admirava a forma como ela levava sua vida e parecia distraidamente não se dar conta de que cada atitude memorável e firme que ela tomava não era por mero acaso, tudo aquilo era totalmente premeditado por sua inocente sabedoria.

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