sexta-feira, 18 de junho de 2010

Enfim, sem fim... [Setenta e Sete]

Malditas lágrimas que insistiam em se esgueirar por entre meus dedos gélidos cobrindo a face. Eu estava cansada de observar sempre os mesmos finais irremediavelmente felizes na superfície, porém totalmente fúteis e mórbidos por trás de suas máscaras. Só posso dizer que por trás de uma grandiosa máscara sempre existe outra máscara.
Também me cansei de realizar finais infelizes em superfície, porém tão cheios de significado. Não sabia mais se realmente desejava trocar meu contentamento por ser uma pessoa completa. Completude traz alegria? Independência? Isso tudo me deixa exausta, me empalidece e me torna alguém que não sei mais se desejo ser.
Acho que sou exatamente o que se pode nomear de alguém eternamente insatisfeita. Seria somente por um motivo: para mim, aqueles instantes mudos seriam eternos.
Sentia-me tão ingênua brincando de ser feliz. Tão ingenuamente invencível, inabalável e intocável. E mesmo assim, quando a brincadeira chegou ao fim, meus punhos ligeiramente cerrados (que outrora perderam uma briga contra a menina refletida no espelho, entretanto esse foi um longo dia) resistiam e tocavam o céu, esbarrando nas nuvens de algodão.
Eu continuava a pressentir que ali em um canto qualquer no fim da rua (o problema seria descobrir que rua, que fim, que canto...) alguém estava a me observar sentada na calçada. Não me agradava essa sensação. Nunca apreciei ter atenção de qualquer espécie voltada para mim. Sempre fui o tipo de garota que prefere passar despercebida, praticamente invisível, em meio a multidão, apesar de isso acabar me gerando problemas de outra ordem. Preferia não ser notada para não ter que virar alvo de comentários, entretanto parecia ironia que por motivos desconhecidos eu sempre sentia uma presença a me observar com seus olhos fugazes.
Quem eu era afinal?
Sentia-me um tanto criança, as pontas dos meus pés displicentemente tortos remexiam o asfalto, enquanto meus calcanhares se erguiam em direção a calçada e o meu sapato xadrez escorregava suavemente dos meus pés.
Sentia-me um tanto adolescente, uma mão repousada no queixo, conferindo um ar de quem reflete sobre o mundo inteiro, ou só sobre seu próprio umbigo e a outra arrumando o cabelo recém aparado com muita coragem.
Deveria sentir-me um tanto adulta, é o que gritam o passar das estações vividas, mesmo que minha existência me dissesse o contrário em meio aos berros.


Série de textos velhos, do ano passado, mas agora que comecei a postá-los, postarei todos. xD

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