quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Fumaça
É isso mesmo!
Quero o silêncio perturbador, caótico, que engrandece, que constrói, que destrói, que destoa, que canta, que assovia, que gira, que sibila. Quero renovar-me, ampliar-me, desconstruir-me em mim. Quero os gritos, a briga, o caos, a luta, a negociação, a negação, a batalha, a barganha. Não posso mais só brincar, necessito intuir mais inverdade, discussão, crescimento, chuva, término, responsabilidade, princípio, ciclo, meio, fim e começo.
Não, eu não quero estabilidade, nem tão pouco certeza, faça-me o favor. Não me concilio com garantias, estendidas ou não, precedidas, entendidas, ao sol pra secar. Não sei lidar com prazos, divisões, aluguéis, contas, hipotecas. Não sei me envolver com ressalvas, limites, cálculos, derivadas, equações, intenções, demonstrações.
Não almejo tranquilidade constante, mas sim de instante, eternidade, passividade, intencionalidade, conforto, acomodação, repressão, prisão. Ser amordaçada não me condiz, não diz, me fiz entender? Sigo sem entender planejamentos, restrições, regras, leis, barreiras e obrigações.
Se o caos é divino, e divinamente eu me defino em caos, não irei mais me traduzir simultaneamente. Não, não vou falar menos poeticamente, de modo a me fazer entender, não vou repensar com intenção de formular idéias mais lógicas, não vou intelectualizar meus pensamentos para ser mais lúcida e muito menos vou me embrenhar e me desgastar nesse exaustivo exercício de fazer sentido.
Sou sendo. E sendo sou bagunça, caos, furacão e tempestade. Não mais espero de mim imutabilidade, essência facilmente apreensível, dizível e constância, não vou nos iludir assim. Se for mesmo pra ser sendo, vamos assim em risadas, lágrimas, intensidade, clímax, depressão, aperto, desejo, intenções e tudo mais a que nos intencionamos. Quando percebo que eu sou eu, eu sou você e talvez o mais importante de tudo seja que, no fim das contas, você sou eu; mudamos o rumo da conversa, nos afastamos do abismo mergulhando nele. E a matéria quando se encontra, se choca, se ama, se enrosca, produz algo que transcende.
Chega mais perto enquanto eu olho pra dentro e silencio o exterior. Enquanto a música embala uma só constatação, sou una com o mundo, me torno una com o alvo e é me misturando que me encontro. Enquanto a gente dança, samba e flutua, a música conta o que a gente já sabia e quem sabe o que a gente ainda haverá de saber.
"We are the middle children of history, man. No purpose, or place. We had no Great War, no Great Depression. Our Great War is a spiritual war, our Great Depression is our lives"
(obs.: texto escrito depois de uma meia hora do filme "Fight Club", como proceder agora, depois do fim do filme, com essa explosão mental?)
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Transitivo
Se ser metade muitas vezes requer se encher de completude, e ser completude requer reconhecer-se como faltante, o que resta a quem se entende em vazio mais do que em completude ou faltante?
Se ser egocêntrico implica entender que o mundo gira em torno de "si", e ser altruísta implica entender que "si" gira em torno do mundo, o que pode se dizer de quem muitas vezes não consegue distinguir o "si" e o mundo, que se mistura com o mundo e tem dificuldade em se separar dele?
Se ser criança se desdobra em espontaneidade e imaturidade e ser adulto se desdobra em ser decidido e tomar iniciativa, o que concluir sobre quem é maturidade por vezes e espontaneidade em grande parte do tempo?
Se ser si mesmo exige que se mostre tal como é, sem máscaras, e ser outrem/ninguém exige esconder-se e só mostrar o refletido, o que pronunciar sobre quem só consegue se desvencilhar do esconder quando é aceito, amado e confortado?
Se refletir e ser poesia é em mim constância o que fazer quando me é cobrada objetividade e certeza?
Se ser egocêntrico implica entender que o mundo gira em torno de "si", e ser altruísta implica entender que "si" gira em torno do mundo, o que pode se dizer de quem muitas vezes não consegue distinguir o "si" e o mundo, que se mistura com o mundo e tem dificuldade em se separar dele?
Se ser criança se desdobra em espontaneidade e imaturidade e ser adulto se desdobra em ser decidido e tomar iniciativa, o que concluir sobre quem é maturidade por vezes e espontaneidade em grande parte do tempo?
Se ser si mesmo exige que se mostre tal como é, sem máscaras, e ser outrem/ninguém exige esconder-se e só mostrar o refletido, o que pronunciar sobre quem só consegue se desvencilhar do esconder quando é aceito, amado e confortado?
Se refletir e ser poesia é em mim constância o que fazer quando me é cobrada objetividade e certeza?
sábado, 1 de outubro de 2011
Respirar
A verdade, pelo menos a minha versão da verdade, é que ser mulher decidida requer indecisão. As certezas são tão volúveis, solúveis, inflamáveis. Ser menina até quando der é decisão de tanta gente, e escolher preservar o jeitinho de menininha, com a decisão ou indecisão de mulher requer tanta reflexão. É difícil não ser eu mesma enquanto me embrenho nessa tentativa, mas pras outras pessoas parece tão fácil.
É custoso pra mim, e o custo é extremamente alto, ser alguém que não eu mesma. É complicado fingir não se importar, inventar ambições, confabular intenções, esnobar sentimentos e entender o inapreensível. É complicado pra mim tecer vulgaridades, despejar contradições, versar futilidades. Em suma, é complexo pra mim a expedição de sobreviver.
Eu sei muito bem, ou o melhor que posso, que as minhas escolhas dizem de quem sou, fui e almejo ser. O complicado é só perceber no que eu me foco, qual é meu lugar espaço-tempo enquanto esse ser de escolhas. E posso dizer que o que fui me intriga, que sou alguém que se interessa pelos consertos, pelas novas possibilidades do que já foi. Mas o sentir atesta que não posso deixar de lado quem sou, não posso deixar de lado quem almejo ser. E aí surge a maior questão de todas: o que fazer?
É nesses momentos em que o nó no estômago, o aperto na garganta e o palpitar no peito não somente não se deixam ser ignorados, como dizem mais do que as mil palavras, frases, pensamentos e intenções circulando freneticamente na minha cabeça.
É custoso pra mim, e o custo é extremamente alto, ser alguém que não eu mesma. É complicado fingir não se importar, inventar ambições, confabular intenções, esnobar sentimentos e entender o inapreensível. É complicado pra mim tecer vulgaridades, despejar contradições, versar futilidades. Em suma, é complexo pra mim a expedição de sobreviver.
Eu sei muito bem, ou o melhor que posso, que as minhas escolhas dizem de quem sou, fui e almejo ser. O complicado é só perceber no que eu me foco, qual é meu lugar espaço-tempo enquanto esse ser de escolhas. E posso dizer que o que fui me intriga, que sou alguém que se interessa pelos consertos, pelas novas possibilidades do que já foi. Mas o sentir atesta que não posso deixar de lado quem sou, não posso deixar de lado quem almejo ser. E aí surge a maior questão de todas: o que fazer?
É nesses momentos em que o nó no estômago, o aperto na garganta e o palpitar no peito não somente não se deixam ser ignorados, como dizem mais do que as mil palavras, frases, pensamentos e intenções circulando freneticamente na minha cabeça.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Equilíbrio
Se os anos não podem dizer como pensar, o que poderia? Tento entender a complexidade que se desdobra, e o que me resta é entender o simples, o tangível. Ironia é constatar que o mais óbvio é o que tende a passar despercebido, já que o compreensível não me intriga e não me afeta.
Enquanto a cabeça calcula, organiza, tentando resolver tudo que surge, compreender o que é dito e se manter em segurança, o peito aperta, explode, tentando encaixar o que sabe que preenche, lidar com o não-dito e se arriscar no improvável. O intelecto vira as páginas, processa as frases e verifica as palavras, mas o sentimento desliza nas páginas, dá sentido as frases e ressignifica as palavras.
As questões da razão falam alto, gritam, por vezes até pertubam, mas mesmo assim as questões do sentir também se fazem ouvir. Acho que devo ser mesmo esquisita, já que quanto mais sou ciência, tanto mais sou coração.
Enquanto a cabeça calcula, organiza, tentando resolver tudo que surge, compreender o que é dito e se manter em segurança, o peito aperta, explode, tentando encaixar o que sabe que preenche, lidar com o não-dito e se arriscar no improvável. O intelecto vira as páginas, processa as frases e verifica as palavras, mas o sentimento desliza nas páginas, dá sentido as frases e ressignifica as palavras.
As questões da razão falam alto, gritam, por vezes até pertubam, mas mesmo assim as questões do sentir também se fazem ouvir. Acho que devo ser mesmo esquisita, já que quanto mais sou ciência, tanto mais sou coração.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Antecipação
O coração aperta no peito, as expectativas nem sempre condizem com a realidade. Por que será que quando as mãos se enlaçam, às vezes faz sentido e às vezes parece mecânico? É possível as intenções mudarem tanto de lugar no decorrer de uma semana?
Os acasos não são de se observar comigo e eu sei que enquanto quase um mês separa, tudo vai tratar de se encaixar, tomar seu lugar, ou talvez não. O difícil de lidar com o imprevisível é perder o controle, sabe? Não saber se enquanto a amizade circunda as conversas de fim de tarde, o amor pode estar logo ali na esquina, ou do outro lado do universo.
E enquanto as circunstâncias não agem, se o tempo passa depressa, só posso dizer que a cabeça não mais concorda com o coração, mas é árduo perceber quem diz o que. Algo me engasga, sufoca, o aperto cresce, e o maior medo não é o de ficar por mim mesma, mas sim o de perder o além de mim.
Os acasos não são de se observar comigo e eu sei que enquanto quase um mês separa, tudo vai tratar de se encaixar, tomar seu lugar, ou talvez não. O difícil de lidar com o imprevisível é perder o controle, sabe? Não saber se enquanto a amizade circunda as conversas de fim de tarde, o amor pode estar logo ali na esquina, ou do outro lado do universo.
E enquanto as circunstâncias não agem, se o tempo passa depressa, só posso dizer que a cabeça não mais concorda com o coração, mas é árduo perceber quem diz o que. Algo me engasga, sufoca, o aperto cresce, e o maior medo não é o de ficar por mim mesma, mas sim o de perder o além de mim.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Contrato
É para ser assim mesmo? Eu sou do tipo que se acostuma com certos sentimentos de intensidade. E é um acostumar-se sincero, apaziguador que me ensina a viver enquanto o não dito fica adormecido. Sou aguda e não crônica: explosões dizem muito sobre mim, e o que resta depois não são só os destroços, mas uma reconstrução regada de suor e sangue, beleza intrínseca, desenvolvimento notável e crescimento exponencial.
Mas de repente mudam todas as cartas do jogo, e eu, que pressentia revolução, me encolho no canto: a criança assustada. O adulto, a mulher dentro de mim, sabe muito bem o que quer, é altamente confiante e decidida, mas a criança só tampa os ouvidos e embala seu corpo pra frente e pra trás, sussurrando pra si mesma uma canção de ninar. Eu sei o que quero e nem sempre sei o que preciso, mas quando os sinais começam a brotar a cada passo, só reafirmo o que já sei.
Enquanto o medo me circunda, reluto, invento desculpas, escondo a verdade. E eis o resultado, o mundo lá fora cercado de poeira, indecisão, chuva, nuvens, incerteza, a maior desculpa de todas: tempestade em forma de receio. E é quando a criança pode sair de debaixo das cobertas que a coragem aparece, em sua forma mais heróica. A tempestade se dilui, e a criança briga, se enfurece, mas o adulto não vai deixar ela tomar conta da casa dessa vez.
Os passos que precedem o incerto são sempre mais longos, o tempo se distorce mesmo, e cada movimento interno é sentido com intensidade tamanha, que posso contar da inteireza desse universo dentro de mim. Enquanto caminho a calmaria toma conta, é a felicidade em forma de completude, que de vez em outra toma conta de mim.
Dá pra ser muito mais sincera e adulta quando se está, feliz, sabe? As palavras fluem, a calma toma conta até mesmo dos discursos mais complexos, mais racionais, ou mais sentimentalmente intrincados. Nesses instantes dá pra perceber sim, que meu sistema operacional sabe lidar muito bem com os sentimentos e com as razões, fato que costumeiramente não constato.
Poderia ser uma grande sorte, ou o maior azar do mundo, ser amada, respeitada e abraçada, em cada pedaço do meu ser. Eu costumo escolher primeiramente a opção que mais se desdobra em indecisão, drama e turbilhão, pois os dramas também são quem sou e a poetisa anseia por eles. Ela adora fazer da própria vida um embate, mas é só quando narra as batalhas épicas em palavras, escritas, ditas, lidas ou pensadas que o drama pode se atenuar e se transformar em realidade e contentamento. A felicidade vem depois, não é conseqüência direta de nada assim tão tangível, de nenhum motivo delimitado, mas ela anda dando as caras com uma freqüência oscilantemente linda, muitas vezes regada por incenso, música e olhos fechados.
Mas de repente mudam todas as cartas do jogo, e eu, que pressentia revolução, me encolho no canto: a criança assustada. O adulto, a mulher dentro de mim, sabe muito bem o que quer, é altamente confiante e decidida, mas a criança só tampa os ouvidos e embala seu corpo pra frente e pra trás, sussurrando pra si mesma uma canção de ninar. Eu sei o que quero e nem sempre sei o que preciso, mas quando os sinais começam a brotar a cada passo, só reafirmo o que já sei.
Enquanto o medo me circunda, reluto, invento desculpas, escondo a verdade. E eis o resultado, o mundo lá fora cercado de poeira, indecisão, chuva, nuvens, incerteza, a maior desculpa de todas: tempestade em forma de receio. E é quando a criança pode sair de debaixo das cobertas que a coragem aparece, em sua forma mais heróica. A tempestade se dilui, e a criança briga, se enfurece, mas o adulto não vai deixar ela tomar conta da casa dessa vez.
Os passos que precedem o incerto são sempre mais longos, o tempo se distorce mesmo, e cada movimento interno é sentido com intensidade tamanha, que posso contar da inteireza desse universo dentro de mim. Enquanto caminho a calmaria toma conta, é a felicidade em forma de completude, que de vez em outra toma conta de mim.
Dá pra ser muito mais sincera e adulta quando se está, feliz, sabe? As palavras fluem, a calma toma conta até mesmo dos discursos mais complexos, mais racionais, ou mais sentimentalmente intrincados. Nesses instantes dá pra perceber sim, que meu sistema operacional sabe lidar muito bem com os sentimentos e com as razões, fato que costumeiramente não constato.
Poderia ser uma grande sorte, ou o maior azar do mundo, ser amada, respeitada e abraçada, em cada pedaço do meu ser. Eu costumo escolher primeiramente a opção que mais se desdobra em indecisão, drama e turbilhão, pois os dramas também são quem sou e a poetisa anseia por eles. Ela adora fazer da própria vida um embate, mas é só quando narra as batalhas épicas em palavras, escritas, ditas, lidas ou pensadas que o drama pode se atenuar e se transformar em realidade e contentamento. A felicidade vem depois, não é conseqüência direta de nada assim tão tangível, de nenhum motivo delimitado, mas ela anda dando as caras com uma freqüência oscilantemente linda, muitas vezes regada por incenso, música e olhos fechados.
terça-feira, 24 de maio de 2011
Coração
Eu acho penoso assumir que quando as palavras faltam, a sua ausência me angustia, sabe? O que eu faço com essa vontade não sei ainda de quê e essa intenção que eu sei mais do que devia do que é? O silêncio me rodeia, quase sempre anuncia a aceitação, mas não hoje, não agora, não nessas circunstâncias.
Quando a gente cansa de brincar de ser amores é difícil simplesmente se deixar levar pelas possibilidades, se deixar envolver nem que seja aos poucos. Fica complicado arriscar, tirar a pedra do peito e não mudar de calçada quando aparece uma flor (como mesmo diria Chico Buarque). A pedra no peito ainda pesa demais, não consigo simplesmente ignorá-la, evitá-la e permitir que o vazio tome conta antes que tudo se (des)faça em flores outra vez.
Depois de mudar minha visão sobre o mundo, o universo e tudo mais, a complexidade em preencher esse pedaço que nunca me faltou só aumentou. Como achar a parte que falta, se não sinto a ausência em mim, e sim no mundo? Essa é a desvantagem em se intricar, misturar e perceber assim, una em tudo e tudo em uníssono mais do que perfeito.
Quando a gente cansa de brincar de ser amores é difícil simplesmente se deixar levar pelas possibilidades, se deixar envolver nem que seja aos poucos. Fica complicado arriscar, tirar a pedra do peito e não mudar de calçada quando aparece uma flor (como mesmo diria Chico Buarque). A pedra no peito ainda pesa demais, não consigo simplesmente ignorá-la, evitá-la e permitir que o vazio tome conta antes que tudo se (des)faça em flores outra vez.
Depois de mudar minha visão sobre o mundo, o universo e tudo mais, a complexidade em preencher esse pedaço que nunca me faltou só aumentou. Como achar a parte que falta, se não sinto a ausência em mim, e sim no mundo? Essa é a desvantagem em se intricar, misturar e perceber assim, una em tudo e tudo em uníssono mais do que perfeito.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Balé no lago das sombras
1, 2 e 3... Todos prontos? Podemos começar? Ainda há muita agitação nos bastidores, silêncio, por favor! Não há mais tempo. Prontos ou não aí vamos nós!
Teatro das máscaras que giram na mais inocente perfeição, tão planejada e premeditada quanto o pôr-do-sol cinza que havia se concretizado há alguns instantes atrás. Com movimentos leves e ensaiados, quase que por magia não desviavam um milímetro do que fora prometido. Tal delicadeza não havia sido notada nos bastidores agitados do teatro já ancestral.
Um pouco mais rápido agora, movimentos um tanto mais majestosos e que chamam a atenção da platéia, que ainda assiste atônita a tal deslumbrância. Aumentando o tom da orquestra, que fora omitida do espetáculo maior por puro capricho de coadjuvantes que insistiam em sua mania de grandeza. A trilha sonora divina ecoava por todo o salão e fazia com que cada espectador seguisse mentalmente nota por nota.
Uma máscara cai aqui e outra ali, com os rostos agora descobertos as duas sombras perdem por um instante o compasso e o ritmo garantido de anteriormente. Mas, insistem em dançar, mesmo que de forma um tanto desleixada em meio aos espectros que preservavam as máscaras confeccionadas, psicologicamente, traço a traço e tom a tom. São aos poucos levados, de forma discreta, para o fundo e para as laterais, locais aonde pudessem ser facilmente tornados irreais e desconhecidos pelo público totalmente hipnotizado.
Um holofote focaliza os mais adornados dançarinos que dançam o balé de forma única, mas ao mesmo tempo, um tanto conservadora. Lembravam dois cisnes bailando no palco, pareciam ir aos poucos flutuando e se afastando do campo de visão de todos, e em perfeitas espirais o cavalheiro conduzia a dama até o teto. E em um instante os dois desapareceram aos olhos de todos.
Surpresa! Várias exclamações surgiram da platéia que insistia em acreditar na quimera inventada para trazer emoção. Todos dançavam tão rápido que se tornaram irreconhecíveis, apesar das cores contrastantes e totalmente diferentes da suas vestimentas. As sedas planavam em uma beleza magnífica, causando um efeito ainda mais assustadoramente belo no sonho. Surgiram sombras vestidas de borboletas no teto e logo se uniram ao ritmo incrivelmente rápido do restante dos componentes.
Os passos se tornam mais lentos outra vez e cada passo é acompanhado de forma plena pelos espectadores. Giros, saltos, todos com leveza, até que mais uma máscara cai.
O balé vira quase um drama, a sombra chora alto e todos os seus lamentos são ouvidos, mas se distorcem antes de chegarem aos ouvidos da platéia, que nada compreende. As cortinas se cerram por um instante, mas a orquestra prossegue encantando a todos e lhes fazendo esquecer do incidente trágico.
Metade das sombras retorna ao palco e, a despeito da confusão que uma única sombra, agora sem máscara, havia gerado, todos seguem exatamente os mesmos passos e agora as máscaras apresentam mais cores e uma luz fraca, mais ainda sim berrante no meio da escuridão mórbida do teatro. Parecem não ter se abalado nem um pouco e a platéia já havia esquecido todos os erros e acontecimentos bizarros da noite.
A orquestra começa a ignorar a música propositalmente para gerar o alvoroço que já havia sido anunciado no dia anterior. Tal desordem tinha a intenção de acordar a platéia para o verdadeiro espetáculo que vinha sendo deixado em segundo plano o tempo inteiro.
Agora sem música as sombras continuam dançando e nem parecem terem perdido a base da apresentação. Aumentam e diminuem a velocidade conforme pareça sensato e não perdem a atenção de grande parte dos que assistiam.
As metades que representam a orquestra saem dos bastidores e se atiram no palco, atrapalhando as sombras que de repente mudam de cor e perdem as sedas. Começam a tocar uma melodia palpável e visível, extremamente bela e bondosa, que vai aumentando aos poucos de forma e cor.
Personificada, é a perfeição mais real que puderam entregar ao público que vinha se separando da consciência da verdade, depois de tantas mentiras aceitáveis e mais fáceis de compreender, atiradas em suas mentes confusas.
Logo as sombras vão sumindo em meio à luz que começa a invadir o teatro. O teto começa a se tornar mais fino e mais fino até se dissipar completamente.
Claridade! Realidade! Tudo colocado diante dos olhos dos que ainda insistiam em se alienar em meio à dança das sombras. E que as cores verdadeiras invadam seus olhos, e que as formas perfeitas continuem a prosperar em cada uma das flores da cerejeira. O lago das sombras acena um adeus. Hora de enfrentar o verdadeiro espetáculo de olhos e mente aberta, mas preservando cada um dos valores acumulados na experiência de perda da lucidez.
(18-08-2006~22:00)
escrevi ouvindo swan lake, a parte principal waltz
ele meio que segue o ritmo da música, achei isso legal ahauahua xDDD~
[texto velhinho, mas lembrei dele esses dias...]
Teatro das máscaras que giram na mais inocente perfeição, tão planejada e premeditada quanto o pôr-do-sol cinza que havia se concretizado há alguns instantes atrás. Com movimentos leves e ensaiados, quase que por magia não desviavam um milímetro do que fora prometido. Tal delicadeza não havia sido notada nos bastidores agitados do teatro já ancestral.
Um pouco mais rápido agora, movimentos um tanto mais majestosos e que chamam a atenção da platéia, que ainda assiste atônita a tal deslumbrância. Aumentando o tom da orquestra, que fora omitida do espetáculo maior por puro capricho de coadjuvantes que insistiam em sua mania de grandeza. A trilha sonora divina ecoava por todo o salão e fazia com que cada espectador seguisse mentalmente nota por nota.
Uma máscara cai aqui e outra ali, com os rostos agora descobertos as duas sombras perdem por um instante o compasso e o ritmo garantido de anteriormente. Mas, insistem em dançar, mesmo que de forma um tanto desleixada em meio aos espectros que preservavam as máscaras confeccionadas, psicologicamente, traço a traço e tom a tom. São aos poucos levados, de forma discreta, para o fundo e para as laterais, locais aonde pudessem ser facilmente tornados irreais e desconhecidos pelo público totalmente hipnotizado.
Um holofote focaliza os mais adornados dançarinos que dançam o balé de forma única, mas ao mesmo tempo, um tanto conservadora. Lembravam dois cisnes bailando no palco, pareciam ir aos poucos flutuando e se afastando do campo de visão de todos, e em perfeitas espirais o cavalheiro conduzia a dama até o teto. E em um instante os dois desapareceram aos olhos de todos.
Surpresa! Várias exclamações surgiram da platéia que insistia em acreditar na quimera inventada para trazer emoção. Todos dançavam tão rápido que se tornaram irreconhecíveis, apesar das cores contrastantes e totalmente diferentes da suas vestimentas. As sedas planavam em uma beleza magnífica, causando um efeito ainda mais assustadoramente belo no sonho. Surgiram sombras vestidas de borboletas no teto e logo se uniram ao ritmo incrivelmente rápido do restante dos componentes.
Os passos se tornam mais lentos outra vez e cada passo é acompanhado de forma plena pelos espectadores. Giros, saltos, todos com leveza, até que mais uma máscara cai.
O balé vira quase um drama, a sombra chora alto e todos os seus lamentos são ouvidos, mas se distorcem antes de chegarem aos ouvidos da platéia, que nada compreende. As cortinas se cerram por um instante, mas a orquestra prossegue encantando a todos e lhes fazendo esquecer do incidente trágico.
Metade das sombras retorna ao palco e, a despeito da confusão que uma única sombra, agora sem máscara, havia gerado, todos seguem exatamente os mesmos passos e agora as máscaras apresentam mais cores e uma luz fraca, mais ainda sim berrante no meio da escuridão mórbida do teatro. Parecem não ter se abalado nem um pouco e a platéia já havia esquecido todos os erros e acontecimentos bizarros da noite.
A orquestra começa a ignorar a música propositalmente para gerar o alvoroço que já havia sido anunciado no dia anterior. Tal desordem tinha a intenção de acordar a platéia para o verdadeiro espetáculo que vinha sendo deixado em segundo plano o tempo inteiro.
Agora sem música as sombras continuam dançando e nem parecem terem perdido a base da apresentação. Aumentam e diminuem a velocidade conforme pareça sensato e não perdem a atenção de grande parte dos que assistiam.
As metades que representam a orquestra saem dos bastidores e se atiram no palco, atrapalhando as sombras que de repente mudam de cor e perdem as sedas. Começam a tocar uma melodia palpável e visível, extremamente bela e bondosa, que vai aumentando aos poucos de forma e cor.
Personificada, é a perfeição mais real que puderam entregar ao público que vinha se separando da consciência da verdade, depois de tantas mentiras aceitáveis e mais fáceis de compreender, atiradas em suas mentes confusas.
Logo as sombras vão sumindo em meio à luz que começa a invadir o teatro. O teto começa a se tornar mais fino e mais fino até se dissipar completamente.
Claridade! Realidade! Tudo colocado diante dos olhos dos que ainda insistiam em se alienar em meio à dança das sombras. E que as cores verdadeiras invadam seus olhos, e que as formas perfeitas continuem a prosperar em cada uma das flores da cerejeira. O lago das sombras acena um adeus. Hora de enfrentar o verdadeiro espetáculo de olhos e mente aberta, mas preservando cada um dos valores acumulados na experiência de perda da lucidez.
(18-08-2006~22:00)
escrevi ouvindo swan lake, a parte principal waltz
ele meio que segue o ritmo da música, achei isso legal ahauahua xDDD~
[texto velhinho, mas lembrei dele esses dias...]
terça-feira, 3 de maio de 2011
Churrasco e buquês
Sem falso moralismo, me atrevo a dizer. Para mim é árduo o exercício de tentar entender porque as pessoas associam comemoração com banho de sangue. Qual é o sentido em transformar felicidade em violência e violência em abarrotamento? Por que será que as coisas não podem ser medidas pela plenitude, pela inteireza quando nos entorpecem de contentamento e podem sim ser medidas pelo excesso quando nos matam aos poucos e nos fazem definhar?
Desde quando arrancar a rosa do pé e agüentar alguns espinhos virou sinônimo de romantismo, ficando em nossas mentes por breves instantes e em nossas vidas por instantes mais breves ainda e perecendo logo a seguir? Desde quando morrer de amor virou algo belo e nobre e viver de felicidade virou falsidade e insensatez? Desde quando clichês viraram o ansiosamente esperado e a inovação ganhou caráter perturbador? Desde quando aplaudem nossas paráfrases e rechaçam nossa voz crítica? Desde quando incitam nossa racionalidade às custas de ignorar nossa irracionalidade?
E sou assim, só assim posso ser, sendo mais desrazão do que razão. Enquanto a essência do incenso invade a casa inteira e as notas me circundam e inebriam, me sinto assim, mesmo que só por um reles momento: plena e satisfeita.
Desde quando arrancar a rosa do pé e agüentar alguns espinhos virou sinônimo de romantismo, ficando em nossas mentes por breves instantes e em nossas vidas por instantes mais breves ainda e perecendo logo a seguir? Desde quando morrer de amor virou algo belo e nobre e viver de felicidade virou falsidade e insensatez? Desde quando clichês viraram o ansiosamente esperado e a inovação ganhou caráter perturbador? Desde quando aplaudem nossas paráfrases e rechaçam nossa voz crítica? Desde quando incitam nossa racionalidade às custas de ignorar nossa irracionalidade?
E sou assim, só assim posso ser, sendo mais desrazão do que razão. Enquanto a essência do incenso invade a casa inteira e as notas me circundam e inebriam, me sinto assim, mesmo que só por um reles momento: plena e satisfeita.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Almost there
Ela ainda não sabia como dizer, nem ao menos o que aquilo tudo significava. Mas era assim, uma voz, uma melodia e tudo mudaria. Mudaria mesmo? Ou tudo aquilo ali ficara ali represado por tanto tempo que ela não conseguia mais entender simplesmente que foram meses e mais meses de prelúdio, de preparação, meditação e incenso, só pra que ela pudesse se fortalecer e encarar a realidade?
Ela também sabia que não era assim que funcionava, não podia simplesmente decidir mudar o rumo de tudo em uma noite qualquer, outra noite em que ela preferira ficar em casa remoendo as maiores tolices imagináveis. Será que realmente ele não conseguia perceber? Mas como ele poderia se ela nunca nem o enxergava?
Ele passava os dias anotando, destoando e entoando de vez em outra os enlaces que se faziam passar despercebidos. Dessa vez as possibilidades que encontrara não se diluiriam com uma noite de sono e sonhos...
Ela também sabia que não era assim que funcionava, não podia simplesmente decidir mudar o rumo de tudo em uma noite qualquer, outra noite em que ela preferira ficar em casa remoendo as maiores tolices imagináveis. Será que realmente ele não conseguia perceber? Mas como ele poderia se ela nunca nem o enxergava?
Ele passava os dias anotando, destoando e entoando de vez em outra os enlaces que se faziam passar despercebidos. Dessa vez as possibilidades que encontrara não se diluiriam com uma noite de sono e sonhos...
quarta-feira, 16 de março de 2011
Quase
Ela sempre fora assim. Havia momentos em que conseguia se considerar alguém deveras extraordinária, mas na maior parte do tempo sabia muito bem quem era e o que dizer sobre si mesma: ordinária e medíocre.
Era quase bonita: o rosto de um tom mediano, os olhos pequenos, escuros e levemente puxados. A boca pequena, fina, rosada. As maçãs do rosto saltadas lhe conferiam um eterno ar de menininha. Mas o nariz, adunco, estranho, parecia fora do lugar, não lhe permitia se destacar. Seus cabelos castanhos levemente ondulados emolduravam seu rosto de forma desigual.
Era quase inteligente: tinha uma opinião diferente e interessante sobre diversos assuntos, mas sua timidez sempre abafava sua voz crítica quando se encontrava na frente de outras pessoas. Já quando dizia respeito ao conhecimento formal, formatado e quadrado, era quase uma negação. Fora das melhores da sala na escola somente na infância e procurava, quase sempre, passar despercebida.
Era quase interessante: tinha um gosto musical difícil de se encontrar nas mulheres de sua idade. Música lhe movia, lhe inspirava e regia sua vida. Mas enquanto se encantava e envolvia nas músicas, sabia que era extremamente desafinada e descordenada, ficando como mera espectadora de notas soltas.
Era quase poetisa: tinha um gosto especial por literatura e pulava de um livro para o outro com a mesma facilidade que tinha pra dizer os nomes dos integrantes dos "The Beatles". Gostava de escrever, e de vez e outra sentia a musa da inspiração bem perto, lhe convidando para sair da ignorância da rotina. Mas sentia claramente que enquanto deslizava a tinta no papel, ou os dedos no teclado, as motivações e intenções eram sempre externas, de forma que no fim das contas a produção parecia pertencer ao mundo inteiro menos a ela mesma.
E era assim que surgiam as coisas na sua vida, fundamentadas no quase. Quase encontrara alguém para dividir o porta escova de dentes e tirar a pedra do seu peito. Quase era amiga o suficiente das pessoas para que pudessem confiar nela e sentirem saudades dela enquanto estivesse ausente.
Quase sabia como elogiar as pessoas sem parecer interesseira e motivada por intenções secundárias. Quase sabia como discutir com alguém sem ficar com ar de teimosa, ou postura de ignorante.
Quase sabia ser adulta quando requisitada e quase sabia agir como criança quando fosse necessário.
Quase era inteligente o suficiente para saber sobre as coisas do mundo e quase era esforçada o bastante para conseguir o que tanto almejava. Quase era equilibrada o necessário para saber do que precisava e o que inventava.
Não sabia como ainda conseguia esperar tanto de si mesma, criar tantas expectativas, afinal de contas já devia saber: era a garota dos quase.
Era quase bonita: o rosto de um tom mediano, os olhos pequenos, escuros e levemente puxados. A boca pequena, fina, rosada. As maçãs do rosto saltadas lhe conferiam um eterno ar de menininha. Mas o nariz, adunco, estranho, parecia fora do lugar, não lhe permitia se destacar. Seus cabelos castanhos levemente ondulados emolduravam seu rosto de forma desigual.
Era quase inteligente: tinha uma opinião diferente e interessante sobre diversos assuntos, mas sua timidez sempre abafava sua voz crítica quando se encontrava na frente de outras pessoas. Já quando dizia respeito ao conhecimento formal, formatado e quadrado, era quase uma negação. Fora das melhores da sala na escola somente na infância e procurava, quase sempre, passar despercebida.
Era quase interessante: tinha um gosto musical difícil de se encontrar nas mulheres de sua idade. Música lhe movia, lhe inspirava e regia sua vida. Mas enquanto se encantava e envolvia nas músicas, sabia que era extremamente desafinada e descordenada, ficando como mera espectadora de notas soltas.
Era quase poetisa: tinha um gosto especial por literatura e pulava de um livro para o outro com a mesma facilidade que tinha pra dizer os nomes dos integrantes dos "The Beatles". Gostava de escrever, e de vez e outra sentia a musa da inspiração bem perto, lhe convidando para sair da ignorância da rotina. Mas sentia claramente que enquanto deslizava a tinta no papel, ou os dedos no teclado, as motivações e intenções eram sempre externas, de forma que no fim das contas a produção parecia pertencer ao mundo inteiro menos a ela mesma.
E era assim que surgiam as coisas na sua vida, fundamentadas no quase. Quase encontrara alguém para dividir o porta escova de dentes e tirar a pedra do seu peito. Quase era amiga o suficiente das pessoas para que pudessem confiar nela e sentirem saudades dela enquanto estivesse ausente.
Quase sabia como elogiar as pessoas sem parecer interesseira e motivada por intenções secundárias. Quase sabia como discutir com alguém sem ficar com ar de teimosa, ou postura de ignorante.
Quase sabia ser adulta quando requisitada e quase sabia agir como criança quando fosse necessário.
Quase era inteligente o suficiente para saber sobre as coisas do mundo e quase era esforçada o bastante para conseguir o que tanto almejava. Quase era equilibrada o necessário para saber do que precisava e o que inventava.
Não sabia como ainda conseguia esperar tanto de si mesma, criar tantas expectativas, afinal de contas já devia saber: era a garota dos quase.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Gengibre
Ele era bem fácil de se dizer idealizado e um tanto difícil de se descrever, mas mesmo assim ela tentaria. Os cabelos levemente ondulados ruivos, ficavam sempre com aquele ar de propositalmente bagunçados. A barba rala por fazer, as quase imperceptíveis sardas charmosas no nariz adunco, lábios naturalmente rosados, ótimos pra se morder e os olhos levemente azulados, em um tom quase cinza. A pele, como só ela dizia, “cor de parede”. Ele era alto, esguio, quase desajeitado, as mãos grandes, os dedos finos. O tronco era despercebidamente forte, de forma com que ele a envolvia duma só vez, sem muito ter que tentar. As pernas eram longas, fortes e másculas, ela as adorava como só ela poderia dizer. Havia muitas outras coisas em que ela havia reparado, mas não se permitia descrever, queria guardar aqueles detalhes para si, sem dividir informações preciosas da singularidade que ele era.
Era paciente e sempre a olhava daquele jeito atencioso, quase preocupado. Entrelaçava as mãos na dela como ninguém fizera antes, intencionando uma segurança livre, que lhe dava asas. Tendia a ser um tanto pensativo demais e carregava o fardo de não poder ignorar suas constatações. A envolvia suavemente, e quando ela recostava a cabeça no seu peito sabia que tudo faria sentido, pelo menos naquele instante. Sabia muito bem que ambos pertenciam ao mundo e não um ao outro, por isso evitava brigas e caprichos, pois os motivos nunca surgiam.
E enquanto ela continuava a sonhar com ele, aquela materialização de todas as suas intenções, só conseguia pensar nos momentos de outrora em que os lábios se entenderam muito bem. Insistia em perceber que o lar deles seria qualquer lugar em que se encontrassem, quem sabe qualquer dia desses... Ela fechava os olhos e cantarolava com a voz mais desafinada do mundo: “So honey, won’t you come home, tonight?”
Era paciente e sempre a olhava daquele jeito atencioso, quase preocupado. Entrelaçava as mãos na dela como ninguém fizera antes, intencionando uma segurança livre, que lhe dava asas. Tendia a ser um tanto pensativo demais e carregava o fardo de não poder ignorar suas constatações. A envolvia suavemente, e quando ela recostava a cabeça no seu peito sabia que tudo faria sentido, pelo menos naquele instante. Sabia muito bem que ambos pertenciam ao mundo e não um ao outro, por isso evitava brigas e caprichos, pois os motivos nunca surgiam.
E enquanto ela continuava a sonhar com ele, aquela materialização de todas as suas intenções, só conseguia pensar nos momentos de outrora em que os lábios se entenderam muito bem. Insistia em perceber que o lar deles seria qualquer lugar em que se encontrassem, quem sabe qualquer dia desses... Ela fechava os olhos e cantarolava com a voz mais desafinada do mundo: “So honey, won’t you come home, tonight?”
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Pishsalver ou Upelkuchen?
(respondendo à Gabilinda)
Estava ali, um frasco de um conteúdo qualquer em uma estante empoeirada, enfilerada com uma diversidade de outros frascos. Definitivamente só diria que o conteúdo era qualquer, porque me era desconhecido, misterioso, mas falar que era um frasco qualquer era total tolice, dava pra perceber muito bem que esse frasco tinha algo de diferente. Suas cores destoavam do resto, ele reluzia, iluminava a estante inteira. O que seria?
Enquanto os outros frascos permaneciam grande parte do tempo em um silêncio oco, ou se desprendendo em palavras vazias, aquele frasco silenciava imensidão indescritível, gritava poesia. Era simplesmente intenso de se presenciar, por vezes lindo, outrora assustadoramente envolvente.
Desde que me recordo, foi assim. Intensidade, sorriso, lágrima, palavras, poesia, música, cinema. E não seria um simples rótulo de papel, mutável, escrito em letras garrafais e com um conhecimento limitado que mudaria toda aquela imensidão que o frasco me trouxera em pouco menos de um ano de intenção.
Te amo, Gabilinda. E sei que frasco é uma metáfora muito pobre pra falar de você, mas foi a primeira que eu encontrei. Acho que foi pra dizer só que um rótulo não vai conseguir mudar, pelo menos pra mim, quem você é, essa pessoa formidável, não vai conseguir mudar uma vírgula de tudo que vivenciei com você. Eu acho que o rótulo só limita, sabe? E você consegue representar tanta coisa pra mim ao mesmo tempo, coisas que um rótulo não passa nem perto de fazer. Espero continuar sendo um porto seguro pra você, uma amiga psicóloga que larga a psicóloga de lado pra poder dialogar de verdade, sem personas. Bem, espero ter conseguido responder suas indagações...
Estava ali, um frasco de um conteúdo qualquer em uma estante empoeirada, enfilerada com uma diversidade de outros frascos. Definitivamente só diria que o conteúdo era qualquer, porque me era desconhecido, misterioso, mas falar que era um frasco qualquer era total tolice, dava pra perceber muito bem que esse frasco tinha algo de diferente. Suas cores destoavam do resto, ele reluzia, iluminava a estante inteira. O que seria?
Enquanto os outros frascos permaneciam grande parte do tempo em um silêncio oco, ou se desprendendo em palavras vazias, aquele frasco silenciava imensidão indescritível, gritava poesia. Era simplesmente intenso de se presenciar, por vezes lindo, outrora assustadoramente envolvente.
Desde que me recordo, foi assim. Intensidade, sorriso, lágrima, palavras, poesia, música, cinema. E não seria um simples rótulo de papel, mutável, escrito em letras garrafais e com um conhecimento limitado que mudaria toda aquela imensidão que o frasco me trouxera em pouco menos de um ano de intenção.
Te amo, Gabilinda. E sei que frasco é uma metáfora muito pobre pra falar de você, mas foi a primeira que eu encontrei. Acho que foi pra dizer só que um rótulo não vai conseguir mudar, pelo menos pra mim, quem você é, essa pessoa formidável, não vai conseguir mudar uma vírgula de tudo que vivenciei com você. Eu acho que o rótulo só limita, sabe? E você consegue representar tanta coisa pra mim ao mesmo tempo, coisas que um rótulo não passa nem perto de fazer. Espero continuar sendo um porto seguro pra você, uma amiga psicóloga que larga a psicóloga de lado pra poder dialogar de verdade, sem personas. Bem, espero ter conseguido responder suas indagações...
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Cerrado
Hoje está tudo assim, meio nublado, mas sem possibilidade de chuva, entende? Nem ao menos uma chuva pra me aliviar desse marasmo, nessa quarta com a maior cara de domingo que se possa ter.
O dia lá fora: lindo, quase perfeito. O sol brilhando, algumas nuvens que flutuam num céu mais que azul, só para dar um charme e fazer com que o pôr-do-sol que há de vir fique mais adornado.
Mas aqui dentro fico com essas nuvens cinzentas, pesadas e imóveis. Tudo em mim fica represado hoje. Bate um medo de olhar para o lado e ser definitivamente só eu mesma. As páginas que deslizo suavemente desse livro com cheirinho de novidade reafirmam minha estranheza em ser uma.
Essa raiva e rudeza só vem para esconder a verdade incômoda. Por mais que venham todas as reflexões, as constatações mais brilhantes, hoje sou sim pesadelo e daqueles que nos tiram o ar, do qual não conseguimos acordar sozinhos. Hoje sou relutância, incerteza, nó na garganta e até mesmo um leve desespero. Precisava mesmo acordar e perceber, como em outros dias que a minha verdadeira natureza é felicidade, mas infelizmente, não hoje...
O dia lá fora: lindo, quase perfeito. O sol brilhando, algumas nuvens que flutuam num céu mais que azul, só para dar um charme e fazer com que o pôr-do-sol que há de vir fique mais adornado.
Mas aqui dentro fico com essas nuvens cinzentas, pesadas e imóveis. Tudo em mim fica represado hoje. Bate um medo de olhar para o lado e ser definitivamente só eu mesma. As páginas que deslizo suavemente desse livro com cheirinho de novidade reafirmam minha estranheza em ser uma.
Essa raiva e rudeza só vem para esconder a verdade incômoda. Por mais que venham todas as reflexões, as constatações mais brilhantes, hoje sou sim pesadelo e daqueles que nos tiram o ar, do qual não conseguimos acordar sozinhos. Hoje sou relutância, incerteza, nó na garganta e até mesmo um leve desespero. Precisava mesmo acordar e perceber, como em outros dias que a minha verdadeira natureza é felicidade, mas infelizmente, não hoje...
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